São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Países ricos criticam atuação do Brasil

LUCAS FIGUEIREDO

LUCAS FIGUEIREDO; ALTINO MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

Documento diz que ações em defesa da floresta são marcadas por ineficiência, burocracia e desarticulação

ALTINO MACHADO
As políticas dos governos federal e dos Estados para a Amazônia ainda são marcadas pela ineficiência, desarticulação e burocracia, apesar dos avanços em relação às décadas de 70 e 80. Em alguns casos, em vez de proteger, chegam a ser uma ameaça ao meio ambiente.
É o que se conclui da leitura das 165 páginas de um documento elaborado pelas secretarias técnicas do PPG7 (Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil), que conta com financiamento dos sete países mais ricos (EUA, Reino Unido, França, Canadá, Japão, Alemanha e Itália).
A publicação foi editada, neste mês, pelo governo federal e traz sua marca publicitária: "Brasil em Ação". Veja a seguir o que diz o documento sobre as ações dos governos federal e estaduais:
Desmatamentos e queimadas - A publicação traça as consequências ambientais dessas duas práticas: empobrecimento da biodiversidade, danos à fauna ameaçada de extinção, aumento do período de seca, do processo de desertificação e da concentração de gases, especialmente dióxido de carbono.
Depois, critica: "As ações do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), dos órgãos estaduais de meio ambiente e demais órgãos ligados ao monitoramento e ao controle do uso de recursos naturais têm sido insuficientes para redução significativa desse quadro, por serem estanques, desarticuladas e, geralmente, deficitárias em recursos financeiros, materiais e humanos".
Diz também que há "carência de tecnologia e pesquisa para uso sustentado dos recursos naturais renováveis amazônicos".
Extração de madeira - Nessa área estão as críticas mais agudas. O documento afirma que é mais fácil tirar uma licença para desmatar do que para implementar projetos de manejo florestal sustentável, nos quais são feitos rodízios de áreas a serem cortadas, permitindo a renovação da cobertura.
"No âmbito das normas ambientais e burocracia governamental, são evidentes as maiores facilidades para obtenção de licenças para corte raso (desmatamento), quando comparadas com os requerimentos para licenciamento de manejo florestal sustentável."
A exploração insustentável (ou seja, feita sem a renovação da cobertura florestal) tem entre outras causas, segundo o documento, "a falta de políticas adequadas e de sistemas de estímulos para manejo sustentável" e a "ineficiência do monitoramento e controle da exploração madeireira".
Essa falta de estímulo faz com que somente 1% da produção madeireira tenha origem nas práticas de manejo sustentável. "O governo carece de um sistema de monitoramento, controle e fiscalização eficiente e eficaz. O atual sistema de normas, regulamentos e instrumentos para efetuar o monitoramento e controle de atividades florestais na região é inadequado".
Reservas indígenas - O livro anota que a Constituição de 88 determinou que todas as terras indígenas fossem demarcadas em cinco anos. Somente a Amazônia abriga 17 milhões de indígenas, a maior população do país.
Extrapolado esse prazo em quatro anos, o quadro na região é o seguinte: 180 terras indígenas demarcadas. Permanecem "sem providência" 135 áreas. Aguardam demarcação 6 áreas identificadas e 60 delimitadas.
"A preocupação do governo é garantir os direitos dos índios à posse das terras tradicionalmente ocupadas, bem como aperfeiçoar os dispositivos legais a esses direitos. Entretanto, apesar dos avanços, persistem alguns problemas."

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