São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Viúva quer 'mudar as coisas' no Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

A fonoaudióloga Margarete Bellotto Linden, 28, não entrou com ação de indenização nos EUA por "questão de princípios". Ela acredita que quem deve satisfação as famílias é a TAM e que o processo no Brasil pode ser uma maneira de "mudar as coisas" no país.
"Acho que muita gente está no processo norte-americano pensando em uma indenização supostamente mais alta e mais fácil de obter. Isso não me seduz", diz.
Em sua opinião, não é justo um consumidor comprar uma passagem de uma empresa nacional, para um vôo doméstico e, na hora que ocorre um acidente, ter de sair procurando pelo mundo a companhia que é a última responsável pelo desastre.
"Meu marido comprou a passagem da TAM e morreu sem chegar ao destino", afirma. "Não é minha a responsabilidade de provar tintim por tintim o que aconteceu para ter um direito reconhecido."
Ela também dá caráter de missão a sua resistência. Para Margarete, o processo no Brasil, que ainda pretende iniciar, pode ajudar a mudar o Brasil.
"Precisamos cobrar a responsabilidade das pessoas certas e pressionar as instituições para que cumpram seu papel. Estou apostando na Justiça brasileira."
Margarete não teve filhos no seu casamento de um ano e dez meses com André Linden, diretor da Vila Romana morto no acidente. Mas diz que, com sua cruzada, quer "deixar um país melhor para os filhos" que possa vir a ter.
Ação inviável
O advogado Renato Guimarães Júnior, que trabalha junto com o escritório norte-americano no contato com as famílias brasileiras, diz que uma ação iniciada no Brasil pode ser inviável.
"Se houver outras empresas -e estrangeiras- envolvidas além da TAM, o processo não tem mais fim", afirma.
Nesse caso, diz, cada ato processual relativo a essas empresas deve ser feito por carta rogatória -um pedido judicial para que a providência seja tomada no país sede da empresa. Ela têm de passar pelo Itamaraty, que cuida de relações exteriores, depois no similar estrangeiro, depois ser remetida à Justiça do outro país, "num vaivém que não tem mais fim", segundo Guimarães Júnior.
TAM
A TAM não se pronuncia sobre o acidente com o vôo 402 até que seja divulgado o relatório final.
Material de divulgação da empresa afirma que a indenização de R$ 145 mil está à disposição das famílias desde dezembro de 96. O valor representa quase dez vezes o estabelecido no Código Brasileiro do Ar, ressalta. Até agora, 18 das 99 famílias aceitaram a indenização. A empresa não revela quais foram.

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