São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Franco diz que crise das Bolsas deixou todo mundo 'perplexo', inclusive ele

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Gustavo Franco, admitiu ontem que a crise das Bolsas deixou todo mundo perplexo, inclusive ele próprio, mas que o governo tem instrumentos para impedir movimentos especulativos e a disseminação dessa crise por outros setores da economia.
"Até agora, não fizemos nada demais, nada excepcional. O saco de maldades do governo ficou fechado. Tivemos sangue frio e evitamos maltratar o mercado desnecessariamente", disse Franco à Folha. "Mas esse saco de maldades poderá ser usado a qualquer momento, se necessário."
Ele comemorou o sucesso da estréia do "circuit breaker" (interrupção do pregão da Bolsa) e deixou claro que serão reforçados os mecanismos de "regulação prudencial" (intervenção preventiva para evitar riscos para o mercado).
Segundo Franco, as teorias econômicas existentes não são suficientes para explicar os motivos, a oportunidade e a extensão da crise internacional das Bolsas.
"Nenhuma teoria é capaz de explicar um movimento tão grande", disse. Entre essas teorias, ele inclui a do presidente do Fed (o banco central norte-americano), Alan Greenspan, de que a Bolsa de Nova York estava muito inflada.
Logo, não há como detectar uma nova onda de queda. Não há como saber quando, onde, com que intensidade e extensão virá essa onda, e até onde afetará o Brasil.
Por isso, segundo o presidente do BC, o fundamental é ficar alerta. "Daqui a um mês, dois, pode haver uma nova crise, sei lá, na Estônia. Nós não podemos achar que o mundo vai acabar a cada crise dessas", disse.
Ficar alerta significa reafirmar a política econômica e "redobrar as apostas nas reformas estruturais, porque não tem outro jeito".
Além disso, o presidente do BC cuida de iniciativas técnicas pontuais. Uma delas foi a introdução do próprio "circuit breaker", que só sofreu resistência do presidente da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, Fernando Optis. "Nós implantamos na marra. E deu certíssimo", comemorou Franco.
Além disso, ele também estuda os mecanismos de intervenção e novidades na "regulação prudencial". "Estaremos cada vez mais atentos às operações das instituições financeiras, para saber se são compatíveis com a capacidade patrimonial de cada uma. Seremos cada vez mais severos com operações financeiras sem lastro real."
O que há, até agora, são constatações, não avaliações e muito menos projeções.
"Só sabemos que essa bolsona globalizada foge a qualquer racionalidade e é extremamente vulnerável a estados psicológicos", disse. "Será que é o fim do milênio?", brincou.
A tendência da equipe econômica brasileira é acreditar que a crise desta semana tem "características de bolha" e que não deverá durar.
"Nós torcemos para isso, porque é, dos males, o menor. Todo mundo se machucou, mas volta para casa para lamber as feridas e a vida continua", comparou.
Entretanto, ele admitiu que é muito cedo para qualquer conclusão e o próprio dia de ontem confirmou que, nisso, ele está certo.
Por volta das 14h, ele estava otimista. "Hoje está uma beleza. Estamos na Suíça", dizia. No final da tarde, entretanto, as Bolsas estavam novamente caindo e o Brasil estava de volta a Hong Kong.
Na avaliação de Gustavo Franco, o fator novo no sistema financeiro internacional é a comunicação em tempo real entre as Bolsas de todo o mundo.
"Há pouco tempo, a Bolsa de Hong Kong caía 5% e o Brasil só ficava sabendo dois dias depois, pelas agências de notícia internacionais. Agora, com a globalização, a informação é imediata. Uma Bolsa contamina a outra, e com a diferença de fuso horário entre o Oriente e Nova York, isso é dramático", disse, em tom didático.
Outro fenômeno é a equalização dos preços. "O mesmo efeito que o comércio internacional tem sobre os preços das mercadorias, a Bolsa globalizada tem sobre os preços dos ativos financeiros."
Para exemplificar, citou o preço do Palácio Imperial, no centro de Tóquio, que há menos de cinco anos correspondia ao preço de todo Estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Hoje, a tendência é que essa disparidade comece a se desfazer.

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