São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Carro por telefone faz 100 vítimas por mês

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Anef, associação dos bancos das montadoras de veículos, lança campanha para combater o golpe da venda por telefone de "carros de consórcio".
Segundo levantamento da entidade, nos últimos três meses cerca de cem consumidores por mês foram vítimas de quadrilhas que agem em todo o país.
No ano passado, a média de golpes foi ainda maior: 220 por mês. "Isso dá uma arrecadação média mensal de cerca de R$ 700 mil", calcula Luiz Carlos Andrade, vice-presidente da Anef e diretor do Banco GM.
Cada vítima dos golpistas perde cerca de R$ 3.000, valor que o consumidor enganado é convencido a entregar à quadrilha para pagar a entrada do veículo.
O total de casos detectados se refere apenas a clientes que procuram a fábrica para informar sobre o golpe. "Acreditamos que o número de vítimas possa ser até cinco vezes maior", diz Marcos Moya, presidente da Anef.
A campanha da Anef deve durar cerca de 45 dias e vai custar US$ 500 mil. Os anúncios da Anef com o slogan "Cuidado: este pode ser o telefonema mais caro da sua vida" serão publicados nas seções de classificados dos jornais.
Cota contemplada
O golpe do carro de consórcio começa com a publicação de de um anúncio classificado. A quadrilha oferece carros novos -Gol, Palio, Vectra e Fiesta- com preços abaixo do mercado, financiamento em até 36 meses e pequenas prestações.
"O preço do carro a prazo é inferior ao preço de venda à vista na concessionária", diz Marcos Moya , presidente da Anef. Segundo Moya, na terça-feira passada a Anef contabilizou 18 anúncios que "pareciam tratar-se de golpes".
No anúncio, o "vendedor" diz que o veículo é "cota contemplada de consórcio" e indica o número de um telefone celular para contato.
O telefonema é atendido por uma secretária eletrônica, onde a vítima deixa nome e telefone. Um dos integrantes da quadrilha retorna a ligação e oferece o carro por meio de uma transferência da cota de consórcio.
Para convencer o comprador de que a transação é séria, conta Moya, os golpistas chegam a enviar, por fax, ficha cadastral falsificada, com o logotipo da fábrica, para ser preenchida pelo candidato.
Para ganhar a confiança do potencial cliente, a quadrilha fornece o número verdadeiro da conta do banco da montadora ou do grupo de consórcio da fábrica, onde deve ser feito depósito inicial para cobrir despesas de contrato.
Em poucos minutos, a vítima recebe a resposta: o crédito está aprovado. "Aí a quadrilha pede o depósito bancário equivalente à entrada do carro, cerca de 20% do valor total", explica Moya. Mas aí a conta não é da montadora. "O depósito é feito em uma conta-poupança de uma pessoa física, uma conta-fantasma. O golpista retira o valor depositado em qualquer caixa eletrônico e desaparece sem deixar rastro."
A vítima recebe até nota fiscal falsificada e instruções sobre como retirar o carro inexistente. Na maioria dos casos, a quadrilha diz à vítima para pegar o veículo na fábrica ou em uma concessionária da marca. "Algumas vezes eles dizem que o carro será entregue em casa", conta Moya.
A Anef recomenda aos consumidores que não fechem a compra de um veículo por fax ou telefone. "Não efetuem nenhum pagamento sem ver o vendedor e o veículo a ser comprado", diz Moya. Segundo ele, o consumidor deve desconfiar de carros vendidos muito abaixo do preço de mercado.

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