São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Os desdobramentos de Hong Kong

LUÍS NASSIF

Quais os desdobramentos da crise da Bolsa de Hong Kong? É muito difícil uma avaliação ampla em cima dos fatos. Há enorme série de fatores envolvidos no processo. A avaliação do impacto sobre cada fator é difícil, principalmente quando se pensa que muitos deles estão interligados.
De qualquer modo, os pontos centrais das projeções focarão os seguintes aspectos da questão:
1) Atividade econômica na Ásia.
A crise de Hong Kong decorreu não de dificuldades macroeconômicas do país, mas de fragilidades específicas de seu setor privado. Particularmente a queda nos preços dos imóveis que espalhou a crise pelas grandes companhias imobiliárias e pelo sistema financeiro -já que os bancos se viram frente não apenas a grandes clientes em dificuldades, mas a garantias bancárias (os imóveis) que já não cobriam os valores emprestados.
Mas a desarticulação de dois setores relevantes da economia local certamente trará impactos relevantes sobre a atividade econômica como um todo -afetando o ritmo das exportações brasileiras para lá.
2) Paridade cambial na Ásia.
Além da queda na atividade econômica, o comércio exterior brasileiro com a região poderá ser afetado pela desvalorização das moedas locais. A Ásia foi a região que indicou a maior desaceleração das exportações brasileiras. Nos últimos meses, esse movimento vinha sendo revertido. De janeiro a abril, as vendas externas do Brasil para a Ásia caíram 13,14%. De janeiro a junho, a queda foi de 5,41%, e de janeiro a setembro, de 0,3%.
Com a nova rodada de desvalorizações, essa recuperação poderá ser abortada. Além disso, mudanças cambiais na Ásia poderão deflagrar novos movimentos de ajuste cambial em outras regiões. Ainda não está clara a extensão do processo.
3) Redução no porta-fólio dos grandes investidores internacionais.
A queda geral dos ativos mundiais significou uma redução do capital financeiro disponível no mundo. Dependendo do novo patamar de preços dos ativos, poderá haver redução no volume que o governo planeja arrecadar com as privatizações.
4) Percepção do risco-Brasil.
Depois do ataque a Hong Kong, aumenta a desconfiança de que a bola da vez poderá ser a Argentina, devido ao câmbio fixo e às últimas eleições. Qualquer movimento sobre a Argentina afetará diretamente o Brasil.
Saídas
O Brasil está em meio a um processo de recuperação dos chamados fundamentos da economia. Como tal, está sujeito a uma série de interferências externas, sobre as quais não se tem controle.
A salvação está na recuperação das contas externas, e em um novo salto exportador. Para tanto, há duas alternativas.
A imediata seria uma desvalorização do câmbio. Mas é hipótese fora de cogitação. Qualquer piscada no câmbio agora deflagraria a corrida especulativa sobre as nossas reservas.
O segundo ponto é acelerar o movimento de reformas e de organização setorial voltada para a exportação. Dados do secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, revelam que a melhoria da competitividade no porto da Cosipa teve o mesmo efeito que uma desvalorização cambial de 4,5%. Melhorias de produtividade portuária, embora sempre bem-vindas, beneficiam tanto exportações quanto importações.
De qualquer modo, é um sinal de que o país, como um todo, precisa se empenhar a fundo na busca da competitividade. É responsabilidade que pesa sobre os ombros do governo e do Congresso -na aprovação das reformas constitucionais-, do setor público -buscando novos índices de produtividade- e nas associações empresariais do setor privado, tomando a si a responsabilidade de acelerar o engajamento das pequenas e médias empresas no esforço exportador.
Qualidade
O Prêmio Nacional de Qualidade 1997 (mais importante premiação do setor) indicou como vencedores na classe manufatura a Weg Motores e a Copesul; na classe de serviços, a unidade de pessoa jurídica do Citibank.
O prêmio merecia ser estendido ao setor público.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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