São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Williams depõe e nega falha técnica

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Frank Williams afirmou ontem, na Itália, que a verdade sobre o acidente que matou Ayrton Senna, em 94, poderá nunca surgir.
"Provavelmente, nunca saberemos o que aconteceu", afirmou o chefe e sócio da equipe que leva seu nome, logo após depoimento à Justiça italiana, que o acusa de homicídio culposo (não intencional).
Williams foi o único homem da organização a falar. O diretor-técnico, Patrick Head, e o ex-projetista do time Adrian Newey, também presentes ao tribunal, se recusaram a depor, lançando mão do direito de permanecer em silêncio.
Os dois também são acusados pela morte do piloto ao lado de mais três pessoas responsáveis pelo circuito de Imola.
Segundo os advogados da Williams, eles poderiam ser mal-interpretados pela tradução simultânea em vigor no julgamento ao abordar aspectos técnicos.
Já Williams, assumindo uma posição apenas administrativa na direção da equipe, limitou-se a negar que o acidente teria sido provocado pela ruptura da barra de direção do carro do brasileiro.
A pedido de Senna, o dispositivo foi encurtado antes do GP de San Marino. Para a acusação, houve negligência na execução da reforma da peça, que teria se rompido e provocado o acidente.
"Como empresa, analisamos a questão e chegamos à conclusão, após vários testes e simulações, de que não houve ruptura antes do choque contra o muro."
O procurador Maurizio Passarini, encarregado da acusação, então, relatou que exames comprovavam sinais de fadiga na peça.
Indagado se não tinha nenhuma dúvida sobre a integridade da barra, Williams surpreendeu.
"De modo algum. Temos dúvidas. Tanto que estamos aqui tentando descobrir o que ocorreu."
O discurso de Williams, assim como o dos advogados contratados pelo time, tinha a clara intenção de criar dúvidas sobre a competência da acusação em analisar assunto tão complexo.
Ao falar sobre fadiga, por exemplo, declarou que o avião que o levou à Itália, ontem, deveria ter "muitas peças" sofrendo de problemas de resistência.
Em outro momento, disse a Passarini: "O modo mais fácil de provocar acidentes na F-1 é colocar pessoas como eu e o senhor, que não somos especialistas, para tomar decisões técnicas".
Williams, no entanto, concordou que o carro de Senna tinha muitas imperfeições, confirmando que o piloto brasileiro sugerira diversas alterações desde os primeiros testes.
Na saída do tribunal, cercado pelos jornalistas, Williams disse não temer uma condenação e que não boicotaria a F-1 na Itália caso fosse declarado culpado.
"Duvido um pouco disso tudo. Não temo o futuro."
Williams e os outros acusados podem ser condenados a penas que variam de seis meses a cinco anos e também a pagar multas.
Especialistas na área, no entanto, duvidam de que alguém possa acabar indo para a cadeia.
A última sessão do julgamento, que deve contar com as alegações finais da defesa e da acusação, foi marcada para o final de novembro.
Espera-se que a sentença acabe sendo proferida em dezembro. Pelas leis italianas, porém, ambas as partes têm direito automático de apelar da decisão do juiz. E uma pena só é efetivada quando todos os recursos se esgotam, o que pode durar mais de uma década.

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