São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997 |
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Abujamra compõe de cabeça e fala karnakês
MARCELO RUBENS PAIVA
Mas o que é Karnak? É o nome do maior templo egípcio. E o que é a banda Karnak? "Uma salada russa. É uma banda grande que não tem preconceitos com nenhuma música", diz Abujamra, em entrevista à Folha. Karnak é quase uma religião -quem já assistiu a um show deles sabe disso. É a única banda que tem um cachorro (Jetom), uma dançarina do ventre (Zuzu Biscaro) e uma língua própria, o davadara, um russo inventado, que poderia se chamar "karnakês". Existe uma legião de fãs que entende e responde em "davadara". Foi o que vi em um show, na Vila Madalena. Abujamra falava "efehari stopoli". Parte da platéia respondia "parakalo". "Isso é 'muito obrigado' e 'de nada' em grego. Nos Mulheres Negras (banda anterior de Abujamra e Maurício Pereira), o Maurício era bom de letras. Sozinho, tive de compor letras e passei a inventar palavras, línguas", explica. Abujamra é autor de todas as letras do Karnak -simples e irônicas como de um cronista inocente pela cidade, pensando no mundo em que vive. "Demorei para descobrir minha poesia. Ela é meio infantil. Saio andando por São Paulo, vendo tipos. Pego o metrô, ando pelo centro, vou à Penha. Mas não anoto nada. Vou compondo, decorando", diz. Abujamra, que é um exímio guitarrista e notório inventor de traquinagens e efeitos em pedais eletrônicos, compõe "de cabeça". Ele conta que é um método inventado em uma viagem ao Egito, para a qual não levou instrumentos. Em cinco anos, Karnak tem prestígio. Além de dois prêmios dados pela MTV, foi eleito o melhor grupo musical de 95 pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Por que a banda não toca nas rádios? "Não tenho a mínima idéia. A banda é muito conhecida pelas pessoas, mas vivemos esse dilema: meio famosos e meio desconhecidos. Nosso novo disco é mais pop, mais conciso, visceral. Fizemos em menos tempo. Queremos fazer sucesso", desabafa. Seu som é tudo e mais um pouco. Do rock ao árabe, do xote ao xaxado. Existe, por trás, algo que une as melodias e a complexa instrumentação: o árido som do Nordeste brasileiro. "Incrível como as músicas de Marrocos e Egito são parecidas com as do Nordeste. O som de Casablanca e Olinda é parecido. E a gente é meio puta, gosta de tudo", brinca Abujamra. Texto Anterior: Saiba os filmes de hoje da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo Próximo Texto: Banda é uma antena parabólica brasileira Índice |
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