São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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EUA e China acertam acordo nuclear

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

EUA e China acertaram o ativamento de um acordo de cooperação nuclear firmado pelos dois países em 1985 e nunca efetivado, ao final do encontro entre os presidentes Bill Clinton e Jiang Zemin.
Mas as divergências entre os dois países em relação aos direitos humanos, educadamente escondidas nos pronunciamentos oficiais preparados por Clinton e Jiang, emergiram nas respostas que deram a jornalistas em entrevista coletiva.
Clinton chegou a dizer que nesse assunto a China está "no lado errado da história". Jiang insistiu na tese de que problemas de direitos humanos são culturais e relativos e que um país não deve interferir em questões internas do outro.
Pelo acordo, empresas norte-americanas poderão vender reatores e tecnologia nuclear para a China, no valor de dezenas de bilhões de dólares. Em troca, a China se comprometeu a interromper sua venda de tecnologia nuclear ao Irã.
O acordo nuclear vai resultar na suspensão de parte do embargo comercial estabelecido pelos EUA após o massacre de opositores na praça de Tiananmen, na China, em 1989. Mas Clinton disse que, fora o material nuclear, os outros itens do embargo (quase todos ligados a segurança) serão mantidos.
No que diz respeito a direitos humanos, poucos avanços foram obtidos ou, pelo menos, anunciados. O tema foi abordado por Clinton nos dois encontros que teve com Jiang: na noite de terça, a sós, por 90 minutos e ontem de manhã, com assessores, por duas horas.
As divergências entre os dois sobre os direitos humanos ficaram evidentes durante a entrevista coletiva, quando o assunto foi levantado por jornalistas dos EUA.
Clinton tocou no assunto das liberdades religiosa e de expressão ao abrir a entrevista coletiva.
Mas de maneira educada, sem cobranças, elogiando pequenos avanços na área do respeito aos direitos humanos e com manifestações de esperança de que as coisas melhorem mais no futuro "para a China poder crescer ainda mais".
Jiang, em seus pronunciamentos, enfatizou a necessidade de respeito mútuo e não interferência em assuntos internos de outros.
Na entrevista coletiva, Jiang justificou a repressão contra manifestantes pró-democracia em 1989 na praça de Tiananmen como medida necessária para manter a estabilidade no país. Clinton discordou e disse que aqueles incidentes prejudicaram o crescimento da China.
Clinton reconheceu, ao responder a uma jornalista, "profundas discordâncias" com Jiang no que se refere a direitos humanos mas "isso não significa que esta viagem não devesse ter acontecido".
Não oficialmente, soube-se que Clinton pediu a Jiang a libertação de alguns importantes prisioneiros políticos, mas o presidente chinês se recusou a atender o pedido.
Outro tema que não avançou o suficiente para resultar em anúncios foi o das condições necessárias para a entrada da China na Organização Mundial do Comércio.
Não foram decididas medidas políticas para diminuir o déficit comercial dos EUA com a China, previsto para US$ 50 bilhões em 1997. Mas a compra de aviões da Boeing pela China, no valor de US$ 3 bilhões, foi anunciada.
Além do acordo nuclear, China e EUA acertaram entendimentos nas áreas de cooperação marítima e combate ao tráfico de drogas. Os dois presidentes resolveram ainda ter uma linha telefônica direta.
Jiang convidou Clinton para visitar a China no ano que vem. Desde George Bush, em 1989, nenhum presidente norte-americano esteve na China. Os presidentes manifestaram esperança de que possa se estabelecer uma cúpula anual entre os líderes dos dois países.

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