São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Brasil deve proibir trabalho até os 14 anos

IRINEU MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A OSLO

O Brasil é um dos poucos países que não ratificaram a convenção da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que proíbe o trabalho para menores de 15 anos de idade. Segundo o governo, o motivo é um artigo da Constituição de 1988 que permite o trabalho a crianças de 12 a 14 anos como "aprendizes".
O ministro do Trabalho, Paulo Paiva, disse ontem, na conferência da OIT sobre trabalho infantil em Oslo, que o país tem intenção de ratificar a Convenção 138. Segundo ele, o presidente Fernando Henrique Cardoso enviou ao Congresso uma proposta de emenda constitucional que torna ilegal o trabalho para crianças até 14 anos.
O limite da idade é uma das questões polêmicas que a conferência enfrenta. Representantes de alguns países consideram que a idade mínima para trabalho deve ser estipulada dentro dos padrões culturais de cada nação. As ONGs defendem a proibição de qualquer trabalho durante a idade escolar.
O governo brasileiro anunciou também novas medidas no combate à prostituição de crianças, especialmente quando ligada ao turismo sexual, tratada na conferência como uma das "formas extremas de trabalho infantil".
Ruth Cardoso
A primeira-dama Ruth Cardoso disse ontem em Oslo que o combate ao trabalho infantil no Brasil está num nível acima das metas que a OIT busca na Conferência Internacional sobre Trabalho Infantil.
"Há muitos países em situação pior que a nossa. Nossa situação é tranquila. Estamos aqui mais em solidariedade aos outros países. A maioria dos aspectos discutidos já está em prática no Brasil", disse a primeira-dama a jornalistas.
A atuação do governo brasileiro foi elogiada por diretores do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Levantamento do PNAD indica que 3,8 milhões de crianças entre 5 e 14 anos trabalham no país.
Ruth Cardoso afirmou à Folha que o problema da exploração de mão-de-obra infantil está mais ligado à educação do que à questão salarial. "Temos problemas de qualidade de educação e é isto que está sendo atacado", disse.
"Que o nosso salário é baixo nós todos sabemos. Mas o problema não está ligado só à pobreza. Vemos a classe média no Brasil facilmente defender que é melhor ter as crianças trabalhando do que tê-las na rua. Eu acho que é melhor elas estarem na escola", disse, comentando opinião do Unicef de que melhores salários também ajudariam o Brasil a eliminar o problema do trabalho infantil.
"Um salário melhor ajuda a eliminar todos os problemas. Estamos caminhando nessa direção. As condições do país ainda não permitem um aumento. Mas sempre seremos pobres se não pusermos a criança na escola."
Sobre os 3,8 milhões de crianças brasileiros que trabalham, a primeira-dama disse que o "alvo é grande para ser eliminado".
"Só agora temos uma política concreta e dirigida para combater o trabalho infantil. Não houve nenhum esforço antes. Além disso, a sociedade civil tem que se mobilizar. Esse é o meu discurso."
Em seu discurso, Ruth Cardoso citou os programas Comunidade Solidária e Bolsa Criança Cidadã como exemplos "bem-sucedidos" da iniciativa do país.

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