São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 1997
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Tempo de espera

JANIO DE FREITAS

Quem quer que acompanhe razoavelmente o jogo político e, em particular, a (in)atividade do Congresso pode reagir com riso ou com repulsa à cobrança de reformas feita por Fernando Henrique Cardoso aos parlamentares, para tornar o país menos vulnerável a crises financeiras mundiais. São as duas possíveis reações do conhecimento, já exaustivo, de que as tais reformas só não estão aprovadas por conveniência e desejo do próprio Fernando Henrique.
As reformas com alguma dose de divergência entre os parlamentares governistas têm o mesmo tratamento, por parte do governo e do Congresso, desde que apresentados os respectivos projetos. Nos dois primeiros anos do governo, seu andamento foi contido pelo temor de Fernando Henrique que alguma divergência insanável se refletisse nos acordos para criar o direito de reeleição. Nesse sentido, houve entrevistas explícitas de vários líderes do governismo no Congresso, entre elas realçando-se a franqueza adotada pelo deputado Inocêncio Oliveira.
Aprovado o direito de reeleição, o andamento das reformas passou a ser contido pelo mesmo temor de Fernando Henrique, agora transplantado para a reeleição mesma. As reformas estão paralisadas, sob pretextos diferentes, à espera de que Fernando Henrique feche os acordos que vem negociando com lideranças políticas e partidos para apoiar sua candidatura.
Na terça-feira em que o país ficou eletrizado com a explosão das Bolsas e enquanto o Banco Central se esvaía em bilhões de dólares para fingir que o real é invulnerável, Fernando Henrique ocupava-se de discutir as condições do PPB e de Maluf para apoiá-lo. Mas, como tem feito todos os dias, não poupou horas à articulação de ardis e às negociações materiais para dobrar as resistências no PMDB à sua candidatura. Esse problema vai durar ainda e, penduradas nele, as reformas que não reformam.
Já tão próximo do quarto e último ano do mandato, as reformas dadas como indispensáveis para o equilíbrio das contas governamentais continuam na mesma situação do primeiro ano de governo. A ser verdadeiro que representariam decisiva redução dos gastos, a não-aprovação representa três anos de gastos perdulários e de crescente endividamento. E a responsabilidade por isso é bem definida, embora não seja cobrada.
Mas Fernando Henrique podia, pelo menos, fazer um esforço de imaginação e substituir a cobrança do Congresso. Ninguém esperaria uma novidade brilhante nem verdadeira.

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