São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 1997
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Países ricos querem 'inflar' doações feitas à floresta

LUCAS FIGUEIREDO

LUCAS FIGUEIREDO; ALTINO MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

Governo brasileiro e Bird são pressionados para alterar critérios contábeis

ALTINO MACHADO
Os países "ricos" querem "inflar" os números referentes às doações para a proteção da floresta amazônica.
Para isso, pressionam o governo brasileiro e o Bird (Banco Mundial) a alterar os critérios contábeis da cooperação.
O sinal mais evidente da pressão está no anúncio das novas doações feitas ao PPG7 (Programa para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil), financiado pelo grupo dos sete países mais ricos (EUA, Reino Unido, França, Canadá, Japão, Alemanha e Itália) e pela União Européia.
O Bird chegou a divulgar anteontem que os países "ricos" haviam formalizado doações no valor de US$ 47 milhões -pouco mais da metade do reivindicado pelo governo no início da reunião do PPG7, realizada em Manaus.
Ontem, a Folha questionou a representação do Banco Mundial sobre um acréscimo indevido de US$ 4 milhões nessa conta, que seriam referentes a contribuições para projetos não ligados ao PPG7.
O Bird reconheceu que houve um "erro", alterando para US$ 43 milhões o número final das doações (8,5% menor que o valor anunciado um dia antes).
A reportagem apurou também que, mesmo dentro da conta de US$ 43 milhões, foram contabilizados como dinheiro "novo" US$ 2 milhões que já tinham sido prometidos pela França havia seis meses. A verba ainda não foi enviada.
A França conseguiu que a doação "velha" figurasse como doação "nova" depois de pressionar os outros participantes do PPG7, incluindo o Brasil e o Bird.
Com isso, os recursos de fato comprometidos na reunião do programa, em Manaus, foram de US$ 41 milhões. Desse total, US$ 31 milhões virão da Alemanha e os US$ 10 milhões restantes serão enviados pelos Estados Unidos.
Essa verba será utilizada para finalizar a primeira fase do PPG7, até o ano 2002, quando deverá ser iniciada uma nova etapa do programa, com projetos de desenvolvimento sustentável mais aprofundados.
Conforme a Folha antecipou, o documento final do encontro recomendou ao governo brasileiro aumentar a fiscalização contra desmatamentos e queimadas.
As maiores pressões para a mudança de critérios na contabilidade do PPG7 vêm exatamente dos países que menos fizeram doações: Estados Unidos, Japão e França.
Ficou acertado que, a partir do próximo ano, um comitê do programa irá analisar a possibilidade de considerar como doações para o PPG7 verbas enviadas para outros projetos de meio ambiente, negociados de forma bilateral entre o Brasil e seus parceiros.
Com isso, Japão e EUA -que resistem em aumentar as contribuições para o PPG7- ganham a possibilidade de "faturar" como doações para o programa verbas de outros projetos bilaterais, acertados conforme a conveniência dos dois países.
"Esses casos serão avaliados separadamente, sendo que o Brasil terá a palavra final. Vamos analisar com cuidado para que não seja empurrado, goela abaixo, qualquer projeto", afirmou o secretário de Coordenação da Amazônia, José Seixas Lourenço.
A França, que doou até hoje US$ 3,67 milhões, e os EUA, que se comprometeram com US$ 17,5 milhões, já se preparam para fazer suas solicitações de "revisão" dos valores doados.

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