São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 1997
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Todo dia uma fonte de radiação é perdida no mundo, diz perito

ANDRÉ LOZANO
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

Todo dia é perdida ou abandonada uma fonte de radiação no mundo. A estimativa é do perito do Departamento de Segurança Nuclear da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), Franz-Nikolaus Flakus.
Há dez anos, foi uma fonte de césio-137 que causou o acidente radiológico em Goiânia, onde morreram quatro pessoas e outras 250 ficaram contaminadas.
Esse é considerado o maior acidente radiológico do mundo. O caso de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, é conhecido como o maior acidente nuclear do planeta.
No caso de Goiânia, uma cápsula de césio-137 foi encontrada por dois catadores de papel no lixo de uma clínica abandonada.
Segundo Flakus, o principal motivo para a perda ou abandono de fontes é a precariedade na fiscalização desse material usado.
Ele disse que nos Estados Unidos, por exemplo, existem cerca de 2 milhões de fontes de radiação. "Desse total, pelo menos 2.000 fontes são perdidas por ano", afirmou Flakus à Folha.
Por isso, segundo Flakus, os países devem ter um conjunto de leis e regulamentos relacionados à segurança radioativa. Além disso, é necessário mecanismo de inspeção das fontes de radiação por meio de um órgão nacional.
Por fim, o perito recomenda a instalação de serviços de emergência em radiação.
Ana Maria Xavier, superintendente de Licenciamento e Controle da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), disse que no Brasil não são comuns os casos de perda de fontes. "Recebemos muitas denúncias de prováveis fontes de radiação localizadas em um lugar indevido, mas, quando vamos verificar, constatamos que não se trata de uma fonte radioativa", disse Ana Maria.
A maior parte dessas instalações estão nos Estados do Rio, São Paulo e Minas Gerais.
Ana Maria disse que o país tem estrutura de controle de material radioativo. De 1983 a 1996, 19.750 fontes foram recolhidas pela Cnen. Desse total, 5% eram de césio-137.
Segundo o líder do grupo de licenciamento, inspeção e controle da Autoridade Regulatória Argentina, Roberto Rojkind, atualmente, "a inspeção das fontes radioativas em desuso é mais importante do que daquelas que estão sendo utilizadas".
Ele citou dois casos graves, além do de Goiânia, de acidentes radioativos provocados por fontes abandonadas. Primeiro, o caso da cidade de Tammik, na Estônia, em 1994. Nesse acidente, também com césio-137, uma pessoa morreu e outras quatro ficaram contaminadas. Houve também o acidente na cidade de Juarez, em 1983, no México.

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