São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 1997
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Grazie, Baresi

JUCA KFOURI

Franco Baresi disse adeus ao futebol. O líbero do Milan está para a história das Copas do Mundo e do futebol italiano mais ou menos assim como Zico está para a mesma história das Copas do Mundo e do futebol brasileiro.
A começar que ambos têm a pele rubro-negra. E os dois viveram dramas parecidos.
Zico passou um verdadeiro calvário para poder disputar a Copa de 1986, no México.
Vinha de uma cirurgia no joelho e passava horas e horas na fisioterapia. Até que Telê Santana o chamou para entrar em campo quando Brasil e França empatavam 1 a 1, num duelo empolgante.
A primeira bola que pegou foi genialmente enfiada para Branco, que sofreu pênalti.
Zico bateu, o goleiro defendeu, a partida acabou empatada, prorrogação, penais, desclassificação.
Pois o eterno capitão da azzurra também sofreu uma intervenção no joelho e em plena Copa de 1994.
Recuperou-se a tempo de jogar a grande final contra o Brasil, e todos nós víamos nele a peça frágil do time italiano, incapaz de aguentar uma decisão daquelas sob o sol escaldante de Los Angeles.
Pois não só aguentou os 90 minutos como jogou a prorrogação. E, sem exagero, foi o maior homem em campo.
Então, vieram os penais. Baresi encarregou-se de bater o primeiro. Chutou por cima e caiu de joelhos no gramado, desesperado.
Naquele momento, porque a vida é assim, agradecemos aos céus aquele erro.
Hoje, chuteiras penduradas, resta agradecer ao craque exemplar que sempre foi.
*
Álvaro Mello Filho, um dos muitos advogados da CBF, disse, em público, que a transformação obrigatória dos clubes em empresas, o fim do passe e a fiscalização do Ministério Público são inconstitucionais por ferir a autonomia dos clubes.
Em particular, foi se desculpar com Gilmar Mendes, o principal jurista do governo na elaboração do projeto de Pelé. Ouviu de Mendes que, a valer o argumento da autonomia irrestrita, o Brasil precisará fazer não uma lei, mas um tratado para cuidar do esporte, como se faz na relação entre países.
E a coluna acrescenta: os dez mandamentos da lei de Deus também não valem para o nosso futebol, que, afinal, tem autonomia absoluta.
Nem mesmo o quinto, "Não matarás" -muito menos o sétimo mandamento, "Não furtarás"...

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