São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 1997
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Mueller-Stahl livra-se de sua culpa com 'Besta'

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Hitler estaria vivo, teria 103 anos de idade e viveria escondido em um porão de Berlim, Alemanha. Seu suicídio teria sido uma encenação montada por Goebbels, um de seus principais assessores, para fazer o mundo acreditar que o Führer estava morto.
Agora o ditador alemão está sendo entrevistado por um pesquisador norte-americano, que tenta verificar se ele é o homem que alega ser ou apenas um impostor.
Com esse enredo ficcional, atores excelentes -entre eles o protagonista e também diretor estreante Armin Mueller-Stahl-, diálogos afiados e roteiro que tem a dose certa de comédia e drama, Mueller-Stahl fez um grande filme, "Conversando com a Besta".
O historiador Arnold Webster (o ótimo Robert Balaban) tem dez dias para descobrir tudo o que aconteceu com seu suposto Hitler desde 1945.
O filme é montado a partir dessa sequência de encontros, um por dia, entre o pesquisador e seu personagem.
O impecável Mueller-Stahl -indicado neste ano para o Oscar de ator coadjuvante pelo papel do pai repressor em "Shine - Brilhante"- faz um espirituoso Hitler, meio gagá, meio louco e lúcido.
Agora, o maior drama desse Hitler é tentar provar para o mundo que sua identidade é verídica. Ele tem também outro objetivo inatingível: morrer. Todas as suas tentativas de suicídio malogram.
Como um gato de sete vidas -os seis sósias arranjados por Goebbels representariam suas outras seis vidas-, ele parece condenado a viver para expiar sua culpa.
O fato de que tanto o Hitler de Mueller-Stahl quanto sua mulher Hortense (Katharina Bõhm) pareçam jovens demais para a idade pode ter essa interpretação.
Desnecessário dizer que a "culpa" do Hitler sobrevivente é na verdade a culpa da Alemanha. A "Besta" traça a arquitetura da culpa, para citar outro filme centrado na figura do Führer, o impressionante documentário "Arquitetura da Destruição".
Mueller-Stahl, que nasceu e cresceu na ex-Alemanha Oriental, reconhece que essa culpa existe: "É uma coisa quieta, lá no fundo da gente". Diz ter feito o filme para livrar-se da sua própria.

Onde: Masp - Grande Auditório, hoje, às 12h

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