São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 1997
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'A Trégua' repete clichês

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Até John Turturro ("Barton Fink") está ruim em "A Trégua", do diretor italiano Francesco Rosi -menos por culpa do próprio Turturro do que da direção e da desastrosa adaptação do romance homônimo do grande escritor italiano Primo Levi (1919-1987).
Durante a Segunda Guerra Mundial, Primo Levi, um químico italiano de origem judia, juntou-se à resistência italiana, foi preso e deportado para o campo de concentração de Auschwitz, na Alemanha.
Seu romance "A Trégua" (1963) conta a trajetória de sua libertação de Auschwitz, cerca de um ano depois, e da longa caminhada de volta para casa, passando por um campo de transição russo, juntamente com um grupo de ex-prisioneiros de várias nacionalidades.
A adaptação de Francesco Rosi consegue transformar num pastiche do Holocausto um dos mais elaborados romances de Levi.
O escritor considerava "A Trégua" mais literário e "mais profundamente elaborado, mesmo como linguagem" do que o livro que lhe deu fama, "É Isto Um Homem?", de 1956.
O filme de Rosi -"Lucky Luciano" (1973) e "Diário Napolitano" (1992)- se restringe a repetir clichês, do figurino às cenas e falas, dos filmes sobre o extermínio de judeus na Segunda Guerra.
Turturro se esforça para representar um torturado e pensativo Levi em processo de readaptação à liberdade e à vida. Mas é tudo tão exagerado que o resultado é artificial, sem qualquer emoção.
Todos os demais atores (a maioria italiana) sofre da mesma síndrome de falta de naturalidade na interpretação, ou seja, dos descuidos da direção equivocada.
O filme participou da seleção oficial do Festival de Cannes 97 e foi relegado ao ostracismo que merece. Mas, no Festival de Filmes Judeus de San Francisco (EUA), foi elogiado como um "épico". Não poderia ser diferente.
(MF)

Onde: Cinesesc, hoje, às 20h

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