São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 1997
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Peter Arnett aponta África como novo foco de notícias

O repórter da CNN, que está no Brasil, reclama da fama

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de 40 anos de carreira e e a cobertura de 18 guerras, o repórter Peter Arnett, 62, da CNN International, já escolheu seu novo foco de atenções: a África.
"Acho que temos dado pouca importância àquela região, que provavelmente será o grande eixo de notícias do século 21. Lá há a possibilidade de haver tanto petróleo quanto na Arábia Saudita, e governos instáveis, muitos querendo pegar dinheiro para si. Lá estão os ingredientes para grandes reportagens", disse.
Arnett, que fez uma palestra ontem no hotel Intercontinental (em São Conrado, zona sul), tornou-se conhecido do grande público depois da cobertura da Guerra do Golfo, em 1991. Durante 57 dias, ele fez transmissões ao vivo de Bagdá, a capital iraquiana.
Arnett também foi o único jornalista a conseguir entrevistar, durante a guerra, o presidente iraquiano, Saddam Hussein.
Em entrevista exclusiva à Folha, o jornalista avaliou a crescente importância da África no cenário internacional.
"Temos grande audiência lá e o período é de grandes mudanças", disse Arnett, que acaba de voltar de uma viagem a Angola.
Arnett tornou-se uma espécie de estrela do jornalismo internacional. A fama, segundo ele, o fez tornar-se mais cuidadoso em suas reportagens.
O reconhecimento internacional também aumenta os riscos. Arnett conta que acompanhou, há alguns anos em Porto Príncipe, no Haiti, uma manifestação contra o governo norte-americano em frente à Embaixada do país.
O jornalista e sua equipe foram agredidos pela multidão. Arnett levou um soco no rosto e começou a sangrar. Caído no chão, viu que, do alto do prédio da embaixada, fuzileiros navais, ao lado do embaixador, acompanhavam a cena.
"Consegui sair de lá e no dia seguinte liguei para a embaixada para 'agradecer' a ajuda. Responderam que estavam esperando uma provocação para reagir. Se eu fosse morto, seria uma verdadeira provocação contra os americanos", disse.
Arnett viveu outra situação em Cuba. Em 96, o correspondente fez reportagem sobre dissidentes políticos em Havana, irritando autoridades cubanas.
"Eles disseram que autorizaram minha entrada por eu ser o Peter Arnett e que em 'retribuição' fiz uma reportagem negativa para o governo", contou.

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