São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Crise das Bolsas derruba aprovação a FHC

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

O valor das ações não foi a única vítima da crise das Bolsas de Valores. A popularidade do presidente Fernando Henrique Cardoso também caiu. Pesquisa Datafolha mostra aumento da desaprovação ao governo e da desconfiança em relação à economia.
O percentual de paulistanos que avaliam o governo federal como ruim ou péssimo passou de 17% em maio para 25%. A fatia dos que acham a gestão FHC boa ou ótima oscilou negativamente de 34% para 31%. A taxa de regular despencou de 49% para 43%.
É o que mostra pesquisa feita anteontem pelo Datafolha na cidade de São Paulo com 652 pessoas. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Apesar de ligada a um mercado de elite, a crise das Bolsas chegou ao conhecimento de 70% dos paulistanos. A maioria da população também ficou sabendo do aumento das taxas de juros (59%).
A maior parte dos paulistanos continua achando o real bom ou ótimo (55%), mas os que consideram o plano ruim ou péssimo passaram de 8% para 14% da população. Cresceu também o percentual de avaliação regular do real. Passou de 26% para 30%.
Outras respostas dos entrevistados mostram o aumento da desconfiança em relação ao quadro econômico de modo geral. O percentual daqueles que prevêem o aumento da inflação, que era de 43% em junho, subiu para 50% e ultrapassou o dos que acreditam que ela vai ficar como está (38%). Só 5% crêem na queda da inflação.
O pessimismo também se reflete na opinião do paulistano sobre o que vai acontecer com o seu bolso: 74% acham que o desemprego vai aumentar (65% tinham essa opinião em junho) e 42% acreditam que seu poder de compra vai cair.
Esse último percentual é especialmente significativo porque indica uma reversão de expectativa. Há quatro meses, só 30% dos entrevistados tinham essa visão.
Em junho, a opinião mais comum entre os paulistanos era a de que seu poder de compra ia ficar como estava. Agora esse grupo caiu para 38% da população.
Várias outras respostas indicam que a crise das Bolsas está na base da queda da confiança da população em FHC: 62% acham que "o governo foi precipitado e não era o momento de aumentar os juros, já que o real não estava em risco".
A frase alternativa a essa oferecida pelos pesquisadores era "o governo agiu bem ao aumentar os juros para proteger o real, já que a crise colocava o real em risco". Só 31% concordaram com ela.
A pesquisa indica que mesmo os mais pobres e menos escolarizados perceberam que a crise não afeta apenas aqueles que tinham dinheiro aplicado em ações. O aumento dos juros teve o papel de estender a crise aos excluídos.
Essa é a visão demonstrada pelos paulistanos quando falam de consumo. Diante do custo mais alto do crediário, 44% dizem que vão reduzir suas compras de Natal e 31% afirmam que vão cancelá-las.
Não por acaso, a grande maioria pretende pagar suas compras à vista: 81% -contra 17% que disseram que vão comprar a prazo.
Não houve variação no grau de inadimplência admitida pela população. De junho até anteontem o percentual daqueles que admitem que deixaram de pagar dívidas passou de 17% para 19%.
Essa resposta deve ser vista com reservas, porque, mesmo diante de uma situação difícil, as pessoas tendem a identificar os problemas mais com os outros do que com si próprias. Exemplo disso é a a diferença entre as respostas do paulistano sobre o que vai acontecer com a situação econômica do país e com a sua particular.
No que se refere ao Brasil, o percentual dos que acham que o quadro vai ficar como está, 41%, é quase igual ao dos que prevêem uma piora: 40%. Porém quando a pergunta se refere à sua situação econômica pessoal, a reação muda completamente: 43% dizem que ela não vai piorar nem melhorar, 34% apostam em dias melhores e apenas 19% acreditam na piora.

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