São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Líder levou beleza e estilo chique à esquerda

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Iara Iavelberg foi diferente em quase tudo do modelo feminino de militância política dos anos 60 e 70 no Brasil. A começar pelo comportamento singular, que colocava o culto à beleza acima de quase tudo.
Qual a ativista capaz de vestir um elegante tailleur marrom para comparecer a um "ponto" marcado com colegas de clandestinidade para discutir os rumos de grupos armados?
Iara fazia isso sem se preocupar com eventuais críticas de colegas nem com a rígida disciplina dos grupos armados. Do mesmo jeito, criticava colegas que não raspavam as pernas.
Para o irmão Samuel Iavelberg, Iara era uma mulher alegre, de personalidade forte e extremamente vaidosa. Mesmo em plena atividade política, não esquecia o salão de beleza.
Muito de sua curiosa história está contada no livro "Iara", da jornalista Judith Lieblich Patarra. Iara casou aos 16 anos, com o judeu Samuel Haberkorn. O casamento durou muito pouco tempo. A militância política foi seu passo seguinte.
Seu primeiro grupo político foi a Polop (Política Operária), organização que se limitava ao meio estudantil. Mesmo quando optou por grupos mais radicais, como a VPR e o MR-8, jamais perdeu seu estilo.
Adorava Roberto Carlos -"masculino e feminino assumidos". Certa vez, em esconderijo no Rio, chamou a atenção de um colega por se trancar no banheiro por muito tempo.
"Vinha como se fosse a um baile. Bem-vestida, pintada, cabelo bonito", dizia o amigo. "Primeiro, eu gosto. Segundo, quero que meu companheiro me ache bonita", respondia.
Rompeu com tudo, até com a tradição judaica de não comer carne de porco. "Demorei a descobrir carne de porco. Quero descontar", dizia.
(EN)

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