São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Família quer forçar exumação

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Seja qual for o resultado do julgamento da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, o desfecho sobre a morte de Iara Iavelberg pode se estender por muito tempo ainda. Só a exumação de seus restos mortais deverá colocar um ponto final no caso.
"Nosso principal objetivo é a verdade", diz Samuel Iavelberg, irmão de Iara. O resultado do recurso da família para que a Justiça obrigue a Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo a fazer a exumação deve sair ainda este ano.
Mas o caso vai continuar provocando abalos na comunidade judaica paulista. A exumação tem o apoio do rabino Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista. Os rabinos ortodoxos discordam. No judaísmo, o suicídio é o pior dos crimes.
"A exumação do corpo é o único meio de esclarecer a dúvida que ainda paira sobre a morte de Iara", diz Sobel. Para ele, a lei judaica, como qualquer outra lei, está sujeita a interpretações. "A minha interpretação é diferente da dos meus colegas ortodoxos", afirma.
Para Sobel, há certos casos excepcionais nos quais a exumação é permitida no judaísmo. No caso de Iara, diz, justifica-se uma exceção porque se trata de "restituir a dignidade de uma pessoa que foi enterrada como criminosa".
Procurado pela Folha, o rabino Elyahu Valt não quis se manifestar. Para ele, a Sociedade Cemitério Israelita e outras entidades judaicas já decidiram como devem tratar o caso. Trata-se de uma espécie de "reabilitação" de Iara.
Com a "reabilitação", Iara deixaria de ser considerada suicida. Ao mesmo tempo, seria celebrada cerimônia religiosa em seu túmulo, para que seja pedido perdão à alma de Iara pelo erro que se cometeu ao sepultá-la como suicida.

"Versão dos militares" A família não concorda com essa solução. "É palhaçada fazer um ato religioso para abençoar o local, pedir perdão e deixar o corpo no mesmo lugar", afirma Samuel Iavelberg. Para ele, sua irmã foi sepultada na ala dos suicidas, sem nenhuma cerimônia judaica.
"Não houve nem mesmo a lavagem do corpo, que é obrigatória no judaísmo", afirma Samuel. "Os rabinos aceitaram a versão dos militares de que houve suicídio." Mesmo que tenha se suicidado, diz, a irmã deve ser reabilitada.
"Há precedentes na história judaica de suicidas que foram aceitos", afirma Samuel. Se confirmada a versão de que Iara se suicidou, segundo ele, isso ocorreu porque ela queria salvar a vida de outras pessoas que teriam seus nomes revelados em interrogatório policial.
Samuel afirma que um eventual suicídio de Iara também se justificaria pelas consequências de sua prisão. "Ela sabia que, se fosse presa, ia passar por torturas terríveis", declara. "Isso seria absolutamente aceitável para o suicídio."
"É lamentável que na comunidade judaica, que viveu o holocausto, haja grupos que persigam a verdade, tendo uma posição tão fechada em relação aos assassinatos no Brasil", afirma Lisboa. "É um equívoco. Isso não tem nada a ver com a história do povo judeu."

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