São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Disposição do parceiro cai junto com a Bolsa

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem chá calmante, nem carinho, às vezes nem mesmo um bom decote dá resultado quando o mercado financeiro despenca. Mulheres que convivem com profissionais da área queixavam-se, na semana passada, do reflexo doméstico que a última crise na Bolsa causou.
"Eu me sinto um abajur nessas horas", diz a assistente de criação de publicidade Maria Amélia Rio Branco, 32, que namora há um ano e meio um administrador financeiro. "Viro a quinta preocupação na vida do meu namorado."
Na madrugada da última quinta-feira, o namorado de Maria Amélia acordou de um pesadelo, suando frio, e não houve milagre que o fizesse mudar de assunto.
"Era um monólogo, só ele falava. Quando é assim, eu ouço tudo, mesmo sem entender nada do assunto 'Bolsa', até ele relaxar. Aí, quem fica estressada sou eu", diz.
No caso da última quinta, nem mesmo o reconfortante ouvido de Maria Amélia resolveu. "Ele resistiu até mesmo ao 'sleeping time' (chá inglês calmante). Só conseguiu dar uma cochilada das 6h30 às 7h30."
Os primeiros reflexos da crise no mercado financeiro foram sentidos pela dona-de-casa Luciana Pereira Matarazzo Suplicy, 32, na semana retrasada.
"Foram 72 horas de tensão", conta Luciana, que é casada com um operador financeiro. "Meu marido chegava em casa transtornado, a adrenalina a toda."
Ela explica que a coisa tende a piorar. "O horário de funcionamento do mercado não é mais de 10h às 17h, mas de 12h às 18h, para acompanhar o movimento da Bolsa de Nova York. Isso significa que, até bater todas as somas, meu marido não vai chegar em casa antes das 20h -se chegar inteiro."
Para os psicólogos e especialistas, a disposição desses administradores de fortunas oscila de acordo com o mercado financeiro.
"Dinheiro e auto-estima nunca estiveram tão ligados como nesse caso", explica a sexóloga Georgia Aoki. "E auto-estima é tudo no tempero de um bom relacionamento afetivo e sexual."
O corretor João Roberto Weguellin, 52, concorda com Georgia. "O cara que costumava transar duas vezes por semana não transa nenhuma quando acontece uma crise dessas na Bolsa. Isso é sabido e comentado no mercado", diz Weguellin, que se considera uma exceção.
"Por acaso, dessa vez eu não perdi dinheiro, porque estava viajando, fora do mercado", explica.
Para a produtora Daniela Bueno, 27, casada um operador financeiro, as cotações do mercado e a do marido não têm necessariamente a ver uma com a outra.
"Quando é crise braba, não adianta mesmo, ele nem olha para a minha cara. Mas se surge uma esperança antes de o mercado fechar, meu marido chega em casa que nem um louco. A gente vai até de manhãzinha movidos à crise."

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