São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Analistas afirmam que alta dos juros terá impacto recessivo igual ao de 95

MAURICIO ESPOSITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A alta nos juros promovida pelo Banco Central na quinta-feira passada pode ter impacto recessivo na economia em grau semelhante ao ocorrido no primeiro semestre de 1995 -quando o governo elevou as taxas e ainda baixou um pacote de medidas anticonsumo.
Na época, o governo tinha dois objetivos: evitar a fuga de capitais do país, em decorrência da crise do México, e desacelerar a economia, que crescia a taxas acentuadas (maiores que a capacidade de financiamento do país, na avaliação da equipe econômica).
Desta vez o pacote foi muito menos abrangente e a intenção foi exclusivamente a de conter o ataque especulativo contra o real.
Segundo analistas consultados pela Folha, o fator que pode aproximar os efeitos ocorridos em 1995 com as consequências das medidas de quinta-feira passada é a atual conjuntura econômica.
Esta é caracterizada hoje pelo menor crescimento em relação a 1995 e índices de inadimplência elevados se comprados com as médias históricas.
"Naquele ano o pacote foi mais amplo e agora o governo só mexeu nos juros, mas isso afeta o consumo de produtos sensíveis ao crédito e a expectativa paralisa os negócios", afirma o consultor Roberto Padovani, da Trend Associados.
Pacote anticonsumo
Além de elevar os juros, o governo, por exemplo, reduziu os prazos dos consórcios, restringiu as importações de carros e eletrodomésticos e proibiu o parcelamento das faturas do cartão de crédito.
O economista Claudio Contador, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também faz a mesma comparação: "neste ano a economia está caminhando de lado já há algum tempo, quando em 1995 o crescimento era mais intenso".
Segundo Contador, a tendência é de ocorrer um aumento da insolvência. "Sempre acontece depois de crises e agora pode ser tão forte quanto em 1995", declarou.
"Quanto mais prolongada for a alta dos juros, maior é a onda de insolvência; vamos esperar que agora esse elevação das taxas seja curta, ao contrário de 1995", acrescentou o economista.
Falências
Em março de 1995, segundo dados da Associação Comercial de São Paulo, tinham sido registrados 496 pedidos de falência nos cartórios, número que subiu para 693 em maio e 1.032 em julho.
O pico da inadimplência foi alcançado em março do ano seguinte, com 1.455 pedidos de falências registrados nos cartórios.
Em setembro do mês passado, os pedidos de falência somaram 1.062, abaixo do pico, embora acima do nível inicial de 1995.
"Pode demorar três ou quatro meses para alcançarmos o pico de inadimplência de 1996", avalia Emilio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo.
"Uma diferença entre os dois momentos a favor do atual é que o pacote não é tão abrangente. Uma diferença contra o momento atual é que, em 1995, a economia estava mais aquecida e demorou quase um ano para arrefecer".

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