São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Bolsa de NY vive a pior semana desde crash de 87

Crise financeira na Ásia derruba cotações em Wall Street

CLÁUDIA PIRES
DE NOVA YORK

A previsão dos analistas norte-americanos de que as Bolsas do país não seriam afetadas pela crise financeira que se arrasta há algumas semanas no Sudeste Asiático caiu por terra em Wall Street na semana passada.
Contrariando essas previsões, a Bolsa de Nova York viveu sua semana mais tumultuada desde o crash de outubro de 1987, reflexo de quedas bruscas nas Bolsas de Hong Kong, Japão e Tailândia, entre outros mercados da região.
Na última segunda-feira, o índice Dow Jones -que reúne as principais ações negociadas em Wall Street- registrou queda de 7,18% ou 550 pontos, a maior desde outubro de 87, quando a Bolsa chegou a registrar queda de quase 23% em um dia.
Mas mesmo com as instabilidades causadas no mercado, a baixa da última segunda-feira, de acordo com especialistas em mercado acionário, não deve ter efeito significativo sobre a economia norte-americana.
Para eles, dados positivos como a inflação de cerca de 2% ao ano, desemprego abaixo dos 5% e déficit federal em US$ 22,6 bilhões fizeram com que os tumultos do começo da semana não afetassem a economia norte-americana.
Há dez anos, quando a Bolsa quebrou, a situação do país era bem diferente: inflação de 4% ao ano, desemprego superior a 6% ao ano e déficit em torno de US$ 150 bilhões. "O crescimento da economia americana está muito acelerado. O mercado sentiu a queda da segunda-feira, mas não vai ser abalado por isso", afirma John Mullin, da Salomon Brothers.
Princípio de pânico
Os dados positivos da economia americana não evitaram, no entanto, altas perdas de investidores individuais e empresas norte-americanas. Alguns, como os bilionários George Soros e Bill Gates, perderam US$ 2 bilhões e US$ 1,6 bilhão, respectivamente.
Na segunda-feira, operadores gritavam pedindo o final antecipado do pregão do dia, que acabou acontecendo com meia hora de antecedência. A situação só se acalmou com a alta recorde do dia seguinte (4,7%) e com as declarações otimistas do presidente do Federal Reserve (Fed), Alan Greenspan, na quarta-feira.
"É preciso lembrar que os grandes investidores não representam o grosso do mercado. Boa parte do mercado de ações de Wall Street é composto por pequenos investidores, que não foram afetados pela queda pois têm rendimento de longo prazo", afirma Tony Dwyer, analista da Landenburg Thalmamn Co. Na visão da companhia, não deve haver desaceleração da economia dos EUA.
Já para Bruce Steinberg, economista chefe da Merrill Lynch em Nova York, o crescimento econômico americano deve sofrer redução nos próximos meses.
Em recente visita ao Brasil, o economista Paul Volker, presidente do Fed na época do crash de 87, afirmou que também acredita ser pouco provável que o ritmo de crescimento da economia americana se mantenha em patamares tão elevados até o ano 2000.

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