São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Natal absorverá cerca de 300 mil pessoas

CARLA ARANHA SCHTRUK
DA REPORTAGEM LOCAL

O Natal do ano passado promoveu um aumento de 400 mil trabalhadores no exército de temporários do país. A previsão é que neste ano o número de contratados para serviços típicos de final de ano fique em torno dos 300 mil.
Quem faz o cálculo é o presidente da Asserttem, Ermínio Alves de Lima Neto, 45. A entidade estima que pelo menos 1,5 milhão de pessoas façam serviços temporários no país durante o ano todo.
A previsão de abertura de um número menor de vagas de trabalho temporário em 97 é mais um dos efeitos colaterais da política de juros altos -podem chegar a 8% ao mês, em média, no comércio- praticada pelo governo federal.
Isso porque, dizem os economistas, as altas taxas de juros encarecem o dinheiro e desestimulam a produção. A cadeia desemboca no desemprego e na inadimplência.
O resultado da equação é evidente: os consumidores se escondem, as vendas enfraquecem e, consequentemente, a contratação de trabalhadores temporários cai.
Há, ainda, mais um agravante. Mesmo que o comércio mantenha um volume de vendas superior ao período pré-Real, o faturamento tende a cair.
A previsão da Federação do Comércio do Estado de São Paulo é que o faturamento das lojas seja 8% inferior em dezembro, em relação à dezembro de 96.
Com isso, a entidade espera uma redução de 4% na quantidade de produtos que serão colocados à venda no Natal deste ano.
Recrutamento tímido
"Em outubro de 96, 60% das lojas já estavam contratando temporários. Já estamos em novembro e a movimentação ainda está tímida", diz Vladimir Furtado, 35, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
Jan Wiegerinck, 70, presidente da agência de empregos Gelre, com 7.000 clientes em todo o país, confirma: "As empresas que costumam contratar mão-de-obra para o fim do ano ainda não fizerem seus pedidos".
Em outra agência de empregos, a Foco RH, os clientes que costumam contratar temporários para o Natal ainda não deram sinal de vida. Valdelici dos Santos, 36, supervisora de seleção da agência, afirma que, em 96, em outubro já havia 85 vagas.
Dívida do Real
O comércio já vem se ressentindo da inadimplência há algum tempo. Segundo o economista Emílio Alfieri, 47, da Associação Comercial de São Paulo, essa taxa é hoje de 20%, quando o normal é 10%. Assim, de cada 10 endividados, 2 não pagam suas dívidas.
O consumidor está se endividando desde o início do Plano Real, diz o economista Antônio Carlos Lacerda, 41, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo. "Ele está pagando prestações que fez há dois, três anos. Não tem condição de comprar mais."
Segundo ele, isso afeta principalmente as grandes cadeias, justamente aquelas que mais contribuiriam para as contratações.
Para Lacerda, o desemprego alto, de 16,3% na Grande São Paulo, em setembro (dados do Dieese), é outra bomba. Essa taxa é a maior desde 85 e deve se manter em patamar semelhante até dezembro.

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