São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Ouça, ministro

JUCA KFOURI

Na titubeante campanha feita pelos clubes contra o projeto Pelé - não é contra nem a favor, muito pelo contrário-, há uma peça rara, reivindicando que o ministro escute os mais velhos.
Apesar de os depoimentos dos cartolas do futebol na comissão especial serem uma interminável sucessão de "nãos", reveladores, portanto, de que o diálogo que pregam é apenas para enganar os ingênuos, há bastidores que a opinião pública precisa conhecer.
Por exemplo: o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, tem se recusado sistematicamente a debater com Carlos Miguel Aidar, ex-presidente do Clube dos 13 e um dos autores do projeto, em programas de televisão.
Mas a campanha dos clubes quer que o ministro os ouça, embora todos já saibam o que têm a dizer.
De mais a mais, o que o Atleta do Século teria a aprender com os clubes?
O que, por exemplo, o Paraná Clube, segundo o anúncio com "08" anos (isso mesmo, 08, não 8), tem a ensinar ao ministro dos Esportes?
E o Corinthians, do alto dos seus 87 anos? O esquema "um-zero-zero", talvez?
Já o quase centenário Vasco há de ensinar como emprestar um jogador e não fazer o seguro acertado no contrato. Ou dar lições de como levar a renda do jogo para casa e ser assaltado na porta.
O Fluminense, 95, pode ensinar a virar mesas, ao lado do Bragantino, 69, que sabe como ninguém os caminhos da Justiça do Trabalho.
Mais que centenário, o Flamengo dá aulas de endividamento. O Santos, aos 85 anos, sabe tudo, desde fazer cair do avião uma mala cheia de dólares na volta de uma excursão à Europa até como dopar um time inteiro para ser campeão mundial, coisa que o velho Grêmio, 94, também sabe, pois não.
O Cruzeiro, 76, dá aulas de cai-cai; o Galo, 89, de escândalos financeiros; o São Paulo, 62, de comissionamentos misteriosos; o Palmeiras, 83, de como desaparecer com o dinheiro dos outros; o Botafogo, 103, de como invadir gramados para bater em árbitros e por aí afora, ou adentro, como o Atlético-PR, 73, e seus históricos "25 mil".
Por falta de espaço, poupemos os demais (todos mestres em dever ao INSS e à Receita). E registremos as inúmeras conquistas de nossos clubes -o que não confere aos seus cartolas de hoje a arrogância que estão demonstrando, como se os estádios estivessem lotados e nossos ídolos, aqui.

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