São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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DO APERTO DE CINTO À DIETA

DO APERTO DE CINTO À DIETA

Desde a crise mexicana a economia brasileira vive um ambiente de esfriamento do consumo. Mas, ao contrário da Argentina, aqui não houve uma recessão. A questão agora é: será possível evitar a contração, com o aumento brutal dos juros decretado pelo governo para defender a moeda contra ataques especulativos?
Tudo depende de quão prolongada será a temporada de juros estratosféricos. Duração que está condicionada principalmente pelo grau de confiança na moeda por parte dos detentores de fundos em reais.
Entretanto, é na dinâmica dos estados de confiança que residem as maiores armadilhas. Afinal, é importante lembrar que a elevação dos juros torna ainda mais cara a rolagem dos títulos da dívida pública. Ou seja, a tentativa de conter a especulação no curto prazo abala ainda mais a saúde das contas públicas.
Outra armadilha é a tendência ao aumento da fragilidade tanto das empresas quanto das instituições financeiras caso os juros permaneçam altos por muito tempo.
Os estragos ocorrem tanto no estoque de créditos a receber, pois os índices de inadimplência tendem a crescer, quanto nos fluxos futuros, já que empresas e consumidores deverão evitar maior endividamento.
Uma terceira armadilha é de ordem tributária. À medida que a economia se desacelera, a arrecadação de impostos deve cair.
Essas três armadilhas podem ser resumidas na tese de que as contas do governo se deterioram. Ou seja, aumentam as necessidades de financiamento do setor público. Necessidades que devem ser cobertas com a colocação de mais títulos públicos no mercado, o que afinal aumenta o estoque de dívida do governo.
Mais que um aperto de cintos -e mesmo que não se chegue à recessão-, a mudança dos últimos dias é suficiente para impor uma dura dieta à sociedade brasileira.
Até quando? Segundo afirmou na última sexta-feira o próprio presidente, isso só Deus sabe.

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