São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Trabalho superando jogatina

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

O mais lamentável na turbulência das Bolsas é que muitas empresas sadias são atingidas por desvalorizações irracionais. Essa foi a reclamação justa de um empresário francês que teve sua empresa desvalorizada em 20% em um só dia, apesar de gozar de excelente saúde.
É claro que Bolsa é risco. Perde-se hoje, ganha-se amanhã. Mas, no mundo atual, os capitais puramente especulativos cresceram de uma maneira monstruosa, muito além dos capitais produtivos. Estima-se existir no planeta cerca de US$ 50 trilhões dedicados basicamente à jogatina em papéis! São capitais vocacionados para especular e não para produzir.
Um mercado como esse não se sustenta indefinidamente. Nos meados da década de 80 foram publicados vários livros antecipando um grande crash para o fim dos anos 90. Nunca liguei muito para essas previsões apocalípticas porque sempre defendi a idéia de se trabalhar intensamente em favor de uma economia saudável e baseada na produção, consumo, poupança, investimentos e empregos -mas ainda temos muito chão pela frente.
O Brasil continua atraindo capitais na base dos juros altíssimos. Capitais desse tipo chegam depressa e saem voando. Para não sair, temos de aumentar ainda mais os juros.
É possível sair desse círculo vicioso? É claro que sim. Na medida em que o Estado fechar seus "ralos" e diminuir o déficit, tudo será mais fácil. Para tanto, é indispensável equilibrar a previdência, reduzir a sonegação, aumentar a base dos que pagam impostos, diminuir as alíquotas e estimular investimentos produtivos. Numa palavra, precisamos das benditas reformas econômicas.
O Brasil tem tudo para dar certo. Os fatos comprovam isso. O setor privado está comprando animadamente as empresas estatais e aumentando a sua eficiência. A agricultura continua sustentando um crescimento do PIB acima da média, podendo aumentar o atual nível de exportações. As indústrias, comércio e serviços elevaram a sua produtividade de maneira extraordinária nos últimos cinco anos. O potencial de consumo de nossa população é enorme -basta ver a expansão do mercado de bens de primeira necessidade trazida pela estabilização da moeda. A própria indústria pode exportar muito mais.
Enfim, o Brasil está pronto para uma arrancada de fazer inveja ao mundo atual e a tormenta das Bolsas nos mostrou que as reformas estruturais passaram a ser um caso de emergência.
Espero não ser preciso desabar um "El Niño" no mercado financeiro brasileiro -com todas as graves e conhecidas consequências econômicas e sociais- para os nossos congressistas votarem essas mudanças de uma vez por todas. Chegou a hora deles provarem que a segurança da nação é mais importante do que o oportunismo eleitoral. Senhores congressistas: pelo amor de Deus, vamos salvar este país!

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