São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Fiquei um mês chorando

FRANCISCO B. ASSUMPÇÃO JR.

"Quando minha filha mais velha nasceu, eu tinha acabado de ser anistiada, já que tinha sido militante política e fui perseguida pelo regime militar. Eu amava o meu bebê, mas ao mesmo tempo, queria retomar uma vida que não pude levar quando estava na clandestinidade. Eu chorava, me sentia impotente. Um ser humano dependendo de mim 24 horas por dia me assustava. Eu sentia muito medo de ter de fazer tudo sozinha. Meu marido saía para trabalhar, e o nenê ficava por minha conta. Você tem de acordar de madrugada, e o marido dificilmente vai acordar de madrugada, e o marido dificilmente vai acordar. Eu fiquei um mês chorando, com muito medo e sentindo solidão. Não conseguia comer direito, parei de me arrumar, de usar roupas bonitas. Relaxei e comecei a me sentir feia. Mas a recuperação foi rápida. Dois anos mais tarde, nasceu a Ana, e eu me senti mais uma vez deprimida.
Dessa vez, foi a consciência de estar sozinha com duas crianças para criar que desencadeou a depressão. Novamente, foi o bebê que me ajudou a sentir que eu existia e estava viva"

(Maria Lúcia Farias, 50, produtora musical)

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