São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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Existem 2.469 cargos de juízes vagos em todo país

LUÍS COSTA PINTO
DO ENVIADO A BRASÍLIA E RECIFE

Há 11.628 vagas para juízes no Brasil. Nesse total, não estão contabilizados os cargos nos tribunais superiores. Dessas vagas, nem todas estão preenchidas. Faltam 2.649 juízes no país.
No Acre, Estado onde muitas das diferenças entre partes distintas de uma causa se resolvem a bala, 63,3% dos cargos destinados a juízes estão vagos.
No Maranhão, terra onde a Justiça mandou a polícia arrombar os cofres do Banco do Brasil para fazer cumprir uma sentença de indenização, apenas 2,5% dos cargos não foram preenchidos.
Ser juiz não é uma moleza como a história e a estatística maranhenses fazem parecer. Às vezes, pode ser duro. Às vezes, pode exigir alguma provação. É o que acha o pernambucano Eduardo Costa, 28 anos, juiz concursado há dois anos e meio e já dono dos poderes vitalícios do cargo.
Na terça-feira passada, enquanto cerca de 2.000 juízes do Brasil inteiro dividiam-se entre os salões refrigerados do Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda, e passeios turísticos por Recife programados pela organização do Congresso Brasileiro de Magistrados, Costa trabalhava.
Juiz há quatro meses da comarca de Sirinhaém, a 80 km da capital pernambucana, tenta conciliar a rotina de despachos no fórum da cidade com aulas no mestrado de direito público que cursa na Universidade Federal de Pernambuco. Ele iniciou a carreira como juiz em Inajá, a 480 km de Recife, no sertão.
"Em inajá era eu e eu. Sentia-me ilhado, um pouco inseguro porque a esmagadora maioria dos processos era por crime de morte. Mergulhei no trabalho e me perguntava se não estaria melhor ganhando honorários num escritório de advocacia."
Ele diz que percebeu que não: "Gosto de trabalhar para a sociedade, mesmo que minhas decisões depois acabem sofrendo recursos".
O salário de Costa não é alto, mas é razoável para quem está no início da carreira. Ganha, líquido, R$ 2.800 por mês.
Filho de professores, só há um ano Costa conseguiu comprar um automóvel.
Como não conseguiu intimar nenhum dos acusados de crime de morte em Inajá, ainda é virgem na presidência de júris -aqueles julgamentos que parecem um espetáculo quando transmitidos pela TV. Está preparando para dezembro seu primeiro júri em Sirinhaém.
"É claro que estou tenso com isso. O júri é um momento solene para o juiz, é quando temos oportunidade de exercitar a sabedoria, o conhecimento do direito. Preparo-me para esse momento todos os dias", afirma.
Ele não se incomoda com os inúmeros recursos que uma sentença sua venha a sofrer até ser confirmada ou reformada por um tribunal superior. "Um juiz pode errar. Logo, um recurso pode corrigir esse erro", diz.
(LCP)

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