São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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A escola é o caminho

ADEMERVAL GARCIA

O trabalho infantil é uma chaga que precisa ser removida da sociedade. Sua erradicação, embora com forte componente emocional, é uma atitude racional, que exige exata compreensão do problema e vontade política para resolvê-lo.
O Centro de Educação Complementar Fundecitrus, em Araraquara, além de outros projetos do setor citrícola no interior paulista, como o Somar, em Matão, e o Cidadão do Futuro, em Catanduva, representa as duas coisas.
Esses projetos são a renovação pública, concreta, de nosso compromisso de erradicar o trabalho infantil e criar melhores condições de formação das crianças. Com os 230 estudantes do CEC Fundecitrus mais os centros de Catanduva e Matão, mantidos por Citrovita e Cambuhy/Marchezan, são mais de 400 crianças atendidas.
O Fundecitrus, que inspeciona 29 mil propriedades citrícolas, quer multiplicar esses centros, ao mesmo tempo em que trabalha pela conscientização do citricultor para que não empregue crianças na produção, porque as indústrias não receberão a sua laranja.
A indústria de suco de laranja jamais usou trabalho infantil, mas entende ter a responsabilidade social de contribuir para criar condições mais adequadas e humanas de amparo e formação do menor.
Pesquisa da Secretaria da Agricultura, com o apoio das indústrias de suco, em 1994, revelou que a principal razão para que os pais levem ao campo os seus filhos não é econômica. É a falta de lugar para deixá-los enquanto trabalham, porque as nossas escolas públicas funcionam em turmas de quatro horas por dia, oito meses por ano.
O trabalhador rural pode ser humilde, mas não é insensível. Sonha para seus filhos um futuro melhor. Sabe que a escola é o caminho. Essa é a filosofia da escola complementar, que funcionará 12 meses por ano. Quando a escola regular estiver fechada, os pais poderão deixar as crianças nela o dia todo.
A criança nos centros não será objeto de caridade ou de promoção. É um ser humano digno, e sua proteção é a garantia de um futuro melhor. Esse já é um resultado visível das ações das empresas do setor, com orientação da Fundação Abrinq e apoio do Unicef e da OIT.
Desafortunadamente, porém, recente noticiário chocou-nos com flagrantes de trabalhadores em condições desumanas -incluindo crianças na colheita de laranja. O fato de serem casos raros não diminui sua dramaticidade. Mas demonstra a magnitude do esforço que despendemos e teremos que despender na conscientização das pessoas de boa-fé.
A exploração premeditada dessas crianças não é apenas um problema social. É um assunto de polícia. É obrigação do Estado punir os responsáveis com severidade.
Pedimos a sindicatos, conselhos da criança e do adolescente e pessoas conscientes, especialmente membros do Ministério Público e do Ministério do Trabalho, que denunciem à Abecitrus se verificarem crianças trabalhando na citricultura, nomeando seu empregador para que seja excluído da cadeia produtiva do suco de laranja.

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