São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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A "mídia em ação" e a crise externa

LUÍS NASSIF

Qual é o papel da mídia em momentos de comoção nacional, como a crise deflagrada pela queda da Bolsa de Hong Kong? Não minimizar as dificuldades, é uma das funções. Não dramatizar excessivamente a crise, é outra.
A mais nobre, no entanto, é apresentar saídas, atuando como agente coordenador de informações. Em qualquer circunstância, pânico é uma reação irracional em relação ao desconhecido -ou seja, à falta de informações ou de compreensão sobre os fatos que estão ocorrendo. Quando a mídia sabe identificar rapidamente os problemas, pode ocorrer desânimo ou mobilização, comoção ou alívio, mas pânico, não. Sairá mais cedo do pânico o órgão de imprensa que, não sendo Poliana, souber entender e articular mais rapidamente as pautas, sobre a nova quadra da economia que virá pela frente, e se transformar em farol eficiente para orientar a opinião pública na luta de reação contra a crise. Em suma, além do problema, souber apresentar a solução.
Mobilização nacional
A guerra contra a crise externa exige ampla mobilização nacional, que permita estimular cada setor que se apresentar para a batalha.
Em princípio, o papel mobilizador deveria ser responsabilidade da Presidência da República. Mas qualquer decisão do governo -até as úteis e inevitáveis- tem sido colocada no baú genérico das "medidas eleitorais", como se o papel do governo fosse produzir medidas inúteis e impopulares.
Além disso, o descuido e a arrogância com que FHC tratou as oposições, na época em que estava em cima da carne seca, criou fossos dificilmente superáveis no curto prazo. Mesmo por que, as oposições estão presas a uma briga de egos que levará inevitavelmente à radicalização de posições.
Projeto exportações
Esse vácuo transfere à mídia o papel de mobilizadora do país, por meio da organização e disseminação de informações sobre todas as partes envolvidas.
O primeiro passo nosso, com o concurso de especialistas, será identificar com clareza qual a estratégia adequada para superar a crise. Todas as saídas passam pela melhoria das exportações.
Caberá a nós identificar os jogadores diretamente envolvidos nesse esforço, a missão de cada um, e estabelecer marcação cerrada, exigindo metas, prazos e cobrando permanentemente o desempenho dos setores envolvidos.
O segredo do "Brasil em Ação" são sistemas de acompanhamento transparentes, ao alcance dos olhos do presidente da República e dos ministérios envolvidos. O segredo do "mídia em ação" serão sistemas de acompanhamento transparentes, ao alcance dos olhos da opinião pública.
A partir da compreensão clara do processo e dos atores envolvidos, haverá campo sem fim para o desenvolvimento de pautas na mesma direção e, especialmente, para a sistematização dos sistemas de cobrança, criando o clima de mobilização adequado para a virada das exportações.
Os envolvidos
Alguns jogadores estão envolvidos no processo. São eles:
Governo - Há uma série de processos em andamento no governo federal, visando reduzir o "custo Brasil". Estão indo bem ou morosamente? Podem ser acelerados ou não? Quais os processos verdadeiramente essenciais? Na infra-estrutura, necessita-se acelerar a desregulamentação do setor elétrico, privatização das telecomunicações, federalização de rodovias, ampliação da malha ferroviária, aumento de eficiência dos portos. No campo financeiro, há a necessidade de aprimoramento dos mecanismos de financiamento e seguro das exportações. Listem-se esses objetivos e proceda-se à marcação cerrada sobre o processo.
Entidades de classe
Têm papel central na organização das pequenas e microempresas voltadas para a exportação. O Sebrae tem experiência na promoção de feiras no Brasil e no exterior. As federações de indústria, comércio e agricultura têm escritórios por todo o país, assim como as associações comerciais. Qual o seu papel na reorganização setorial? Quais as metas que eles se dispõem a cumprir?
Mídia
Tem três papéis essenciais nesse processo. O primeiro, de cobrança das ações dos demais atores -governo e iniciativa privada. O segundo, de identificação de experiências bem-sucedidas de promoção de exportação (para ampliar seu efeito), dos setores com potencial exportador e dos pontos de estrangulamento (para cobrar sua solução). Finalmente, na criação da mística da exportação. Cada feito alcançado tem que ser celebrado, seus autores, reconhecidos, e seu exemplo, multiplicado, para injetar ânimo no país. Cada meta frustrada tem que ser denunciada, e os responsáveis, apontados à opinião pública, para não haver acomodação.
Será a maneira de demonstrarmos que já somos uma nação madura.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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