São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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Consumidores lotam shoppings, mas evitam as compras a prazo

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O comércio tentou virar o jogo e capitalizar, no fim-de-semana, a adversidade do choque dos juros, que deve esfriar a economia a partir de agora.
Lojas e concessionárias procuraram atrair público com anúncios de que ainda estavam usando tabelas antigas de juros e que essas seriam trocadas a partir de hoje, com taxas mais salgadas.
O resultado não foi o esperado. Vários shoppings lotaram no sábado, mas as vendas não decolaram, principalmente as que dependiam de crediário.
Só as concessionárias parecem ter conseguido faturar com a estratégia de anunciar os juros antigos como se fossem promoção.
Com o apoio dos bancos ligados às montadoras, que mantiveram as mesmas tabelas, algumas revendedoras registraram vendas até três vezes maiores do que em outros finais de semana.
Foi o caso da Jardins, concessionária Chevrolet na marginal Pinheiros. Segundo o supervisor de vendas, Donizete Aparecido, a loja vendeu 60 carros no sábado e no domingo, contra a média de 20 automóveis em finais de semana normais.
Sem bancos
Sem bancos próprios para bancar a manutenção das taxas e sem grandes anúncios, pequenos lojistas de shoppings tentaram, em vão, convencer o consumidor na base da conversa.
Orlando Assunção, gerente da Panashop do shopping Center Norte, acredita que as vendas foram comparáveis às do meio da semana.
Segundo o gerente, antes da alta dos juros, as vendas de finais de semana da loja, especializada em produtos eletroeletrônicos da marca Panasonic, eram duas vezes maiores do que as registradas nos dias úteis.
"Essa alta dos juros vai atrapalhar muito as vendas de eletrônicos, que já estavam caindo. Esperávamos uma recuperação no final do ano, mas agora não sei como vai ser", lamentou.
Se depender da reação de alguns consumidores, Assunção pode esperar o pior.
O motorista Carlos Alberto Deniz, que mora em Jundiaí (interior de São Paulo) e ontem passeava pelo Center Norte, disse que resolveu adiar suas compras até que as mudanças nos juros fiquem mais claras.
"Não vou me arriscar a fazer crediário por enquanto", disse o motorista.
Deniz é um exemplo da perplexidade do consumidor diante da turbulência que agitou a economia na semana passada.
Com medo dos juros, ele até desistiu de procurar um financiamento para compra da casa própria. Justamente um tipo de crédito que, por ser de longo prazo, deve sofrer impacto menor com a mudança nas taxas.

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