São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997 |
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Rap com pasta de dente
XICO SÁ
A partir das 21h20 de sábado, o grupo paulistano mostrou que merecia o palco principal e não o auxiliar, de onde levantou o público com "Mandando Bronca", faixa mais badalada e de maior peso. Embora diante de uma platéia não acostumada ao mundo do hip hop, o Pavilhão 9, com o seu panfleto embalado por guitarras afiadas e scratches do DJ Branco, chacoalhou um festival movido a pipoca e Coca-Cola. Acreditem, São Paulo é a única cidade do mundo que proíbe cerveja em grandes espetáculos de música pop. Uma meia dúzia que arriscou entrar com uma latinha ouviu desaforos da segurança. Testemunhamos uma cena ridícula: um policial pegou uma cerveja com um rapaz na platéia (deve ter sido contrabandeada dos camarins), apanhou a lata, pôs no chão e pisoteou como um Rambo. No palco, Rho$$i e Doze não perdoavam nos vocais. Atacavam de "Otários Fardados", um hino do rap paulistano contra a violência da polícia na cidade. Marinho (baixo), Blindado e Ortega (guitarras) mostravam, mais uma vez, o quanto poderiam roubar a noite de David Bowie se tivessem no palco principal. Os organizadores poderiam ter trocado o "fuck you" gasguito da vaporosa Gwen Stefani (do No Doubt) pelo barulho macabro do "Opalão Preto" do Pavilhão. A música começa com o motor de um velho Opala sendo ligado e explode com um relato cheio de terror. É a história dos matadores de periferia. Eles estão dentro do carro, seis cilindros, 20 km por hora, e conduzem o pânico na noite: "Um opalão preto estando atrás de você/ pague pra não ver." O show do grupo de São Paulo confirmou o bom momento que vive o rap nacional, que tem no Pavilhão, Racionais MCs, Câmbio Negro, Faces do Subúrbio (hip hop com levada de martelo agalopado), entre muitos outros, uma boa história para contar. Texto Anterior: Dupla exaspera platéia Próximo Texto: Palco B serviu de vitrine Índice |
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