São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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Região gera disputa político-econômica

IGOR GIELOW
DA REPORTAGEM LOCAL

A Zona Franca de Manaus, além de um território preferencial para compras, é um dos mais intricados ninhos de intriga político-econômica do Brasil.
Desde que foi criada, há 30 anos, a zona franca é alvo de todo tipo de interesse.
Há alguns bons motivos: neste ano, as cerca de 600 empresas do pólo industrial de Manaus devem faturar perto de R$ 14 bilhões.
Além disso, o país dispensa a arrecadação de quase R$ 3 bilhões todo ano por conta dos incentivos fiscais que cede às empresas que topam se instalar no meio da Amazônia Legal -condição que vai durar até 2013.
Todo esse potencial econômico atrai mais do que empresários. Desde o fim da década de 70, políticos locais se especializaram em exercer poder de influência sobre a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), órgão responsável pelo distrito industrial da capital amazonense.
Maquiagem
Criou-se até uma "bancada amazônica", composta por parlamentares supostamente interessados na preservação da Hiléia -referência ao nome grego dado à região pelo explorador alemão Alexander von Humboldt (1769-1859), usado recentemente em texto dessa bancada que isentava as indústrias da região de qualquer acusação de "maquiagem" em seus produtos.
O chamado uso político da Suframa, amplamente conhecido, só foi documentado no ano passado, quando o Ministério do Planejamento resolveu intervir na administração do órgão e realizar auditorias sobre suas práticas.
Descobriu-se que contratos eram superfaturados e que o dinheiro destinado a investimentos na região (cerca de R$ 30 milhões anuais) era usado para fins tão diversos como pagar passagens de primeira classe para músicos que se apresentavam em Manaus.
Com a virada no poder interno da Suframa, o principal afetado foi o governador Amazonino Mendes (PFL-AM).
Ele e seus aliados reclamaram da suposta inépcia do novo superintendente, Mauro Ricardo Machado Costa. A irmã e uma sobrinha do governador foram demitidas por Costa por serem funcionárias "fantasmas" de uma fundação ligada à Suframa.
Acusado
A disputa chegou, em meados deste ano, ao presidente Fernando Henrique Cardoso, que acabou forçado por seu partido, o PSDB, a manter Costa.
Amazonino sempre negou ter tirado qualquer vantagem da Suframa. Por outro lado, acusa políticos locais ligados ao governo federal de estarem se "apropriando" da Suframa.
O principal acusado é o deputado Arthur Virgílio (AM), adversário histórico de Amazonino e um dos fundadores do PSDB.
Ameaças de dossiês de todos os lados, denúncias de coação, violência política e até "grampo" telefônico permeiam a disputa.
Essas e outras fazem a Zona Franca de Manaus se aproximar de uma área livre não só para o comércio, mas também para o faroeste político.

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