São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresário diz que juros baixam logo

LUIZ COSTA PINTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem tudo é desespero ou críticas ácidas ao governo entre os empresários da área de varejo que andam preocupados com a queda nas vendas e a recessão em razão das altas taxas de juros.
Há uma voz de discórdia nesse cenário, pregando paz e tranquilidade: o empresário João Carlos Paes Mendonça, dono do Grupo Bompreço, sediado em Recife, a terceira maior rede de supermercados do Brasil. "Ainda somos os melhor país do mundo para que os estrangeiros venham investir. Os juros vão baixar rapidamente e as sequelas serão poucas", crê.
O Grupo Bompreço fatura R$ 2 bilhões por ano, tem 92 supermercados do Ceará à Bahia, possui 18 mil funcionários e, até o final de 98, pretende investir R$ 270 milhões em novas lojas e na modernização de seus métodos.
"Não revi nenhum dos meus planos de investimento em função da semana passada. A alta dos juros era necessária, será transitória, e não imporá perdas notáveis à nossa economia. Tenho uma administradora de cartões de crédito e estou lançando o plano zero mais dois, ou seja: o consumidor faz uma compra, paga em duas vezes no cartão e sem juros!", anuncia, querendo demonstrar confiança na estabilidade do real.
O cartão de crédito do grupo, chamado 'Hipercard', tem 1 milhão de clientes e é aceito em 20 mil estabelecimentos comerciais das capitais nordestinas onde o Bompreço está instalado.
Para quem quer fazer compras no crédito rotativo, parcelando o saldo devedor, o 'Hipercard' impõe uma taxa de juros de 8,9%, uma das menores do mercado.
Apenas 5% das vendas do Grupo Bompreço são feitas a prazo, e 25%, em cartões de crédito. Para quem vive do varejo, o empresário João Carlos Paes Mendonça está bastante otimista.
Amigo de Maciel
"Derrotamos a inflação, que era o inimigo mais visível do país, mas agora precisamos aprovar o restante das reformas que estão no Congresso para poder resgatar a dívida social", prega, rezando de acordo com o missal do governo.
O otimismo quanto à rapidez de recuperação da economia a cobrança sobre o Congresso não são de estranhar. Paes Mendonça é um dos empresários mais próximos do vice-presidente da República, Marco Maciel (PFL).
Paes Mendonça atribuiu ao sucesso do Plano Real a abertura de capital de sua empresa, a venda de títulos em bolsas dos EUA e da Europa e uma associação com o grupo holandês Royal Ahold (faturamento de US$ 30 bilhões por ano em 3.000 lojas). Para ele, o país não está na rota da recessão.
"Creio que o consumidor continuará organizando o seu Natal. Talvez compre menos bens duráveis, mas terá um Natal estável", diz. Ele acha que as altas taxas de juros reduzirão a venda de automóveis, eletrodomésticos e outros bens duráveis, mas vê o impacto como transitório.
Na quarta-feira passada o Banco Central dobrou as taxas de juros cobrada para financiamento direto entre os bancos, obrigando as instituições financeiras a fazer o mesmo nos seus contratos de empréstimos.
Desde então alguns economistas e empresários passaram a prever recessão para a economia brasileira neste final de ano.

Texto Anterior: No Rio, lojas decidem não alterar as taxas
Próximo Texto: Crash acirra a disputa entre os que defendem reforma e desvalorização
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.