São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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Líderes se queixam de privilégio a baianos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A tentativa do presidente Fernando Henrique Cardoso de reunir líderes da Câmara e Senado para mostrar união entre Executivo e Legislativo acabou provocando outra crise -dessa vez política- entre os aliados do governo.
Os líderes dos partidos governistas do Senado ficaram irritados com o fato de FHC ter convidado o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e o líder do governo na Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), no dia anterior, para discutir as medidas que o governo vai tomar.
Além de terem sido chamados pelo presidente apenas no dia seguinte, os líderes governistas do Senado saíram da reunião de ontem sem conhecer qualquer medida, porque não houve explicação detalhada dos ministros da área econômica ou do próprio FHC.
O presidente aumentou o desconforto dos líderes ao cometer o que alguns consideraram uma "gafe" e outros, um "recado" sobre a força da família Magalhães .
Ao encerrar a reunião, FHC contou que Luís Eduardo havia participado da reunião do dia anterior com ele e a equipe econômica, para detalhar as medidas que seriam tomadas, e chamou-o de "líder do governo no Congresso" (ele é líder na Câmara). O mal-estar foi geral.
O líder do PFL, Hugo Napoleão (PI), nem tentou esconder as divergências com o Palácio do Planalto. Ele não compareceu à reunião nem enviou representante. Sua cadeira ficou vazia.
À tarde, fez questão de participar da sessão do Senado, para mostrar que estava em Brasília.
Depois da reunião, os líderes disseram ter sido chamados para uma "montagem de fotografia" no Planalto para transmitir interna e externamente uma imagem de união entre Executivo e Legislativo.
Medidas
Nenhuma medida concreta foi anunciada depois da reunião. Os líderes e o porta-voz de FHC, Sergio Amaral, citaram os produtos agrícolas e os bens de consumo como exemplos de setores que poderão ser beneficiados por medidas de incentivo à exportação.
Na reunião, o ministro Pedro Malan (Fazenda) reafirmou a continuação da política de juros altos e descartou a possibilidade de desvalorização do real.
A discussão sobre novos mecanismos de incentivo às exportações tem como pano de fundo a recente crise financeira provocada pela queda das Bolsas de Valores.
Déficit
O governo avalia que, além de combater o déficit público e trabalhar pela aprovação das reformas administrativa e previdenciária no Congresso, precisa reverter os déficits registrados na balança comercial -quando as importações superam as exportações.
No ano passado, o déficit da balança foi de US$ 5,5 bilhões. Nos primeiros dez meses deste ano, as importações já superaram as exportações em US$ 6,876 bilhões.
Ao reduzir o déficit comercial, o governo combateria um dos fatores que provocam a saída de dólares do país, o que torna o país mais vulnerável a um ataque especulativo contra o real.
"Virão outras medidas para que as exportações continuem a crescer", afirmou Sergio Amaral, após o encontro de duas horas entre FHC, parte de sua equipe econômica e os líderes no Congresso.
O encontro de ontem foi interpretado como uma sinalização do governo aos mercados financeiros interno e externo de que está se mobilizando para enfrentar novas crises financeiras provocadas por quedas nas Bolsas de Valores.

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