São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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Volta de fraudadora pode demorar, diz PF

Jorgina de Freitas diz que 'brigará' contra extradição

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA SUCURSAL DO RIO

O diretor-geral da Polícia Federal, Vicente Chelotti, 48, disse ontem que a demora para extradição da advogada Jorgina Maria de Freitas depende da vontade dela. "Se ela concordar com a extradição, estará no Brasil em cinco ou dez dias. Se ela contestar, o processo será longo."
Jorgina foi condenada pela Justiça brasileira por ter cometido fraudes de ao menos US$ 114 milhões no INSS, em São João do Meriti (RJ). Após cinco anos foragida, ela se entregou anteontem à polícia da Costa Rica, onde se escondia.
Segundo o embaixador da Costa Rica no Brasil, Javier Sancho, 48, ela disse à Justiça daquele país que vai "brigar" contra a extradição.
Na opinião de Chelotti, há indícios que apontam a disposição de Jorgina de voltar ao Brasil. Como o fato de Jorgina ter despachado malas para o Rio de Janeiro e ter dado uma entrevista à Rede Globo.
O embaixador costarriquenho acredita que a advogada resolveu se entregar porque o cerco da polícia de seu país estava se fechando cada vez mais. "Ela sabia que não tinha nenhuma chance."
A imprensa costarriquenha noticiou ontem que Jorgina disse estar sendo perseguida também por nicaraguenses. Sancho diz que, se a informação for verdadeira, os nicaraguenses devem ser "mercenários" que haviam sido contratados pela própria Jorgina para protegê-la e poderiam estar agora exigindo algum tipo de pagamento.
Há versões diferentes para a prisão de Jorgina. Vicente Chelotti diz que ela procurou a polícia e se entregou, enquanto o embaixador costarriquenho diz que ela foi detida por iniciativa da polícia.
Bens
Com a prisão de Jorgina, o governo brasileiro quer repatriar US$ 80 milhões que ela desviou do INSS e apressar a liberação do restante de US$ 34 milhões já bloqueados em contas nos EUA.
Os valores foram obtidos em rastreamentos bancários, que permitiram a comprovação de que Jorgina fez remessas de grandes somas para Bahamas, Paraguai, Ilhas Jersey, Espanha, Alemanha, Suíça e Ilhas Virgens Britânicas.
A movimentação foi feita em nome da própria advogada, de alguns de seus parentes e de empresas de fachada. Até agora, já voltaram ao Brasil US$ 2,2 milhões desviados por Jorgina, que estão à disposição da Justiça. Outros R$ 2,8 milhões em dinheiro da advogada foram bloqueadas em bancos brasileiros.
Os bens de Jorgina no Brasil, assim como os de outros condenados por fraude contra a Previdência, estão indisponíveis. O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) já conseguiu a devolução de US$ 25 milhões desviados para o exterior pelos fraudadores.
Estima-se que as fraudes contra a Previdência chegaram a US$ 600 milhões, dos quais 60% foram parar em outros países. Lá, segundo procuradores do INSS que investigam o caso, era feita a partilha do dinheiro das fraudes.
Prédio no Rio
A família de Jorgina é dona de mais da metade de um edifício luxuoso em Vila Isabel (zona norte do Rio). No prédio, moram a mãe e três irmãs da advogada.
O prédio tem cinco andares, com dez apartamentos no total. Seis deles foram comprados pela advogada ainda na fase de construção, no final da década de 80, período em que é acusada de ter praticado fraudes previdenciárias.
Como a Justiça concluiu que a compra foi feita com dinheiro desviado do INSS, os apartamentos foram tornados indisponíveis. Eles não podem ser vendidos.
Cada apartamento tem quatro quartos e duas varandas, com área total de cerca de 170 m².

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