São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC justifica medidas 'duras' e critica oposição

Segundo o presidente, 'a história não perdoa quem vacila'

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para uma platéia de 6 ministros e 15 parlamentares, numa reunião de quase três horas, no Planalto, o presidente Fernando Henrique Cardoso rejeitou cobranças e justificou-se ontem pelas medidas tomadas para controlar a crise nas Bolsas de Valores.
Disse, em síntese, que "a história não perdoa quem vacila nesses momentos nem quem posterga decisões". Depois de pedir entendimento e harmonia no Congresso para votar as reformas, FHC criticou a oposição que, em sua opinião, enxerga apenas atitudes eleitorais nas decisões que toma.
Com ironia, disse que se estivesse preocupado com a eleição, não iria pedir "austeridade e levar a economia ao sacrifício da alta de juros". Fez isso, afirmou, pois "confia no povo e no patriotismo dos que sustentam o governo".
Foram à reunião os presidentes do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), os líderes governistas nas duas Casas, os ministros da área econômica e os que assessoram FHC no Planalto.
"Nos momentos em que os interesses do país e do povo estão ameaçados, o sentimento de urgência e a firmeza das decisões devem marcar o comportamento dos governantes. (...) Não é momento para cobranças nem para queixumes. O país precisa de união e de confiança. É momento de entendimento", afirmou FHC.
FHC disse que teve de tomar "decisões duras, mas necessárias" para assegurar o valor do real e a confiança na moeda. Segundo ele, a determinação do governo é manter o valor do real, assegurando o valor dos salários e a capacidade do país de continuar atraindo investimentos e garantir o emprego.
FHC disse que o preço que se está pagando é a forte elevação da taxa de juros e o uso das reservas em dólares -que estão sendo em parte recuperadas, segundo ele.
"O importante é manter o rumo. E o rumo está claro: é a continuidade das reformas, a aceleração das exportações e a ação do governo em várias áreas, notadamente no financiamento da agricultura e da área da construção civil, a retomada dos bens de capital e a continuidade nos investimentos básicos. Isso está permitindo ao Brasil ganhos de produtividade e o redesenho do nosso parque produtivo e de serviços", afirmou FHC.
"Oposição surda"
Para FHC, o país recobrou a confiança em si e, agora, depois de percorrer um caminho "tão longo e tão largo" não cabe outra decisão "senão a de manter as conquistas já obtidas e avançar mais".
Ele disse que logo que assumiu o ministério da Fazenda, no governo Itamar (92-94), apelou à oposição para que todos combatessem a inflação, o maior problema à época. "Os esforços, nesse aspecto, foram baldados (frustrados)."
Afirmou ainda que "os ouvidos surdos de alguns vêem (sic) em qualquer bom propósito uma manobra eleitoral". "Estiolam-se (enfraquecem-se) em conjecturas vãs os que não têm a grandeza para admitir (...) que só pensamos no interesse do país e do povo", disse.
No discurso, transmitido ao vivo pelas emissoras de rádio e TV do governo, FHC pediu "confiança e serenidade" para a população.
Interrupção
A reunião foi interrompida por quase uma hora para FHC participar da cerimônia de entrega da Ordem do Mérito Cultural, a mais alta condecoração cultural do país, realizada num salão do Planalto.
Entre as 24 personalidades condecoradas estava a cozinheira predileta da família Sarney, Estelita Rodrigues, a dona Lenoca, agraciada na categoria arte culinária.

Participaram também do encontro de ontem os ministros Pedro Malan (Fazenda), Antonio Kandir (Planejamento), Clóvis Carvalho (Casa Civil), Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos), Sérgio Motta (Comunicações), o secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge, o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, os senadores José Roberto Arruda (PSDB-DF), Elcio Alvares (PFL-ES), Sérgio Machado (PSDB-CE), Jáder Barbalho (PMDB-PA), Epitácio Cafeteira (PPB-MA), Odacir Soares (PFL-RO), Esperidião Amin (PPB-SC) e os deputados federais Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), Aécio Neves (PSDB-MG), Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), Odelmo Leão (PPB-MG) e Paulo Heslander (PTB-MG).

LEIA MAIS sobre a crise às págs. 1-5 e 1-6 e no caderno Dinheiro

Texto Anterior: A Folha de ontem na opinião do leitor
Próximo Texto: Meta é preservar reeleição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.