São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coluna desmistifica língua portuguesa

DA REDAÇÃO

O professor Pasquale Cipro Neto, 42, estréia amanhã na Folha uma coluna que tem como objetivo desfazer o mito de que o português é uma língua impenetrável.
A coluna será publicada às quintas-feiras, no caderno Cotidiano. A coluna do escritor Moacyr Scliar, "Cotidiano Imaginário", passa a ser publicada às segundas-feiras.
Segundo Pasquale, a coluna sempre se apoiará em um exemplo vivo: uma propaganda, um cartaz, uma placa, uma letra de música.
Formado em letras (português e espanhol) e professor do Sistema Anglo de Ensino há 20 anos, Pasquale é consultor da Folha desde 89. Desde 94, participa do Programa de Qualidade do jornal.
Criador e apresentador do programa "Nossa Língua Portuguesa", que vai ao ar pela TV Cultura, Pasquale ficou conhecido por usar letras de música para ensinar português. "Brasileiro não lê, e a música é muito mais próxima dele."
Ao lado de clássicos das literaturas portuguesa e brasileira, como Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Machado de Assis e Graciliano Ramos, ele recomenda, como fonte de aprendizado da língua, ler as letras das músicas de Caetano Veloso e Chico Buarque.
Entre os músicos da nova geração, elogia o compositor e poeta Arnaldo Antunes.
Além de ler e ouvir autores de qualidade, ele defende o hábito de consultar regularmente o dicionário. "É preciso não ter vergonha de ir ao dicionário. As pessoas erram porque têm 'certeza' e não vão ao dicionário", afirma.
Para ele, concordâncias e uso da crase são grandes fontes de erros. "Ferreira Gullar dizia que a crase não foi feita para humilhar ninguém, mas, pelo jeito, humilha. As pessoas fazem o diabo com ela."
Mas o que incomoda mesmo o professor é o uso indiscriminado de termos estrangeiros em detrimento dos similares nacionais.
"Acho medonho falar 'deletar'. Temos os verbos cancelar, apagar, que podem perfeitamente ser usados. Não acho que a influência estrangeira seja maléfica, não tenho nada contra um termo estrangeiro, desde que ele venha suprir uma falta."
Entre as situações em que não conhecer a língua pode causar constrangimentos, o professor cita uma cena de que teve conhecimento. "Um reitor de uma universidade enviou um fax a um ministro da Educação, pedindo ao 'iminente' ministro a liberação de verbas. O ministro respondeu que já havia tomado posse. O pedido foi negado."
Basta ir ao dicionário para constatar que iminente significa "que está em via de efetivação, que ameaça acontecer em breve".
O reitor, provavelmente, queria dizer eminente, que significa alto, elevado, excelente, sublime.

Texto Anterior: Regional diz que demitirá corruptos
Próximo Texto: Direção da Ubes quer boicote ao provão experimental do 2º grau
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.