São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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Família reza pelo retorno de Daniel

Pai não dorme desde o desaparecimento

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Família e amigos do estudante Daniel Pereira de Araújo estão fazendo correntes de orações para que ele seja achado vivo. Desde a tarde de domingo, a pequena casa de dois quartos na favela São Remo vive lotada de pessoas com terços nas mãos.
A mais abalada com a longa espera por notícias de Daniel é a mãe do rapaz, a empregada doméstica Lizete de Souza Pereira. Chorando o tempo todo, ela não fala com ninguém, apenas reza pela volta do filho caçula.
"Ela não come nada, não fala com ninguém e desmaia a cada cinco minutos. Queria levá-la ao hospital, mas ela disse que só sai de casa quando o Daniel voltar", relata o marido de Lizete, o pedreiro João Batista de Araújo.
Como toda a família, Lizete já faltou dois dias ao trabalho desde o desaparecimento. "Como é que alguém vai conseguir trabalhar sem saber onde está o filho?", pergunta João Batista.
Também chorando a todo momento, João Batista não consegue esconder o desespero pela ausência do filho. Andando por hospitais, delegacias, unidades da Febem e postos do Instituto Médico Legal desde domingo, ele afirma que não vai parar enquanto não achar Daniel.
"Estou desde domingo à base de café, cigarro e água", conta João Batista. "Não consigo dormir de preocupação, mas, mesmo se conseguisse, não iria dormir porque tenho medo que minha mulher faça uma besteira."
João Batista afirma já ter pensado que seu filho possa estar morto. Mas ele prefere acreditar que Daniel esteja apenas machucado, após ter sido espancado por seguranças da USP.
"Os seguranças devem ter batido no meu filho e o deixado trancado até as marcas sumirem para não ter provas contra eles."
Ao falar isso, João Batista chora, lembrando que seu filho estava vestindo apenas um calção de banho quando desapareceu: "Ele deve estar morrendo de frio. Os coleguinhas do Daniel trouxeram o tênis e a camiseta que ele não teve tempo de pegar quando correu dos seguranças".
Os quatro irmãos de Daniel compartilham a versão do pai. "Ele não tem motivos para sair de casa. Ele é estudioso, adora a família e aqui em casa nunca faltou nada", falou o irmão mais velho, Djalma, que estuda computação e trabalha em uma empresa de informática.
Mesmo ganhando pouco como pedreiro, João Batista consegue manter os cinco filhos na escola. Além de Djalma, a segunda filha, Denilza, também faz curso superior. Ela estuda letras e trabalha como caixa de banco.
Davi, o filho do meio, está na Academia da Polícia Militar. Dimas, 17, está na 1ª série do 2º grau. E Daniel, na 8ª série. "Ele nunca repetiu", diz, orgulhoso, João Batista.

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