São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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Governo descarta adotar novas medidas se enfrentar outra crise

LUÍS COSTA PINTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo não tem um cardápio variado de opções para reagir à crise de credibilidade do Real, iniciada depois da queda dos índices das Bolsas na semana passada.
Ficará naquelas já adotadas ou anunciadas: taxas de juros elevadas para atrair capital externo e evitar fuga de aplicações dos próprios brasileiros, choque fiscal e orçamentário destinado a deixar claro que os burocratas de Brasília pretendem gastar menos e melhor e pregação de urgência na aprovação das reformas previdenciária e administrativa.
Desvalorização do real e aceleração das privatizações são sugestões de outros tratamentos que estão sendo sopradas no ouvido do presidente Fernando Henrique Cardoso por economistas e empresários com os quais tem conversado nos últimos dez dias. São descartadas de pronto.
A desvalorização, cobrada pelos exportadores como sendo a saída para aumentar o ingresso de capitais no país via exportação, poderia sinalizar fraqueza da moeda e do governo. Deu errado quando foi adotada no México, em 95, e na Tailândia, neste ano. Quanto à privatização, é encarada como uma solução de longo prazo.
As siderúrgicas e mineradoras estatais já mudaram de dono. FHC comprometeu-se com o Congresso dizendo que não venderia a Petrobrás. Privatizar o Banco do Brasil é uma tarefa possível mas para a qual nem o governo nem o banco estão preparados.
Restam as estatais de telecomunicações, que ainda percorrerão um longo caminho até o leilão de venda. Quem pode realizar privatizações mais rapidamente são os Estados, que começam a vender suas empresas energéticas (como a CPFL, de São Paulo, cujo leilão é hoje), mas seus cronogramas independem do cronograma federal.
"Remédio amargo"
Em reuniões e conversas que teve ontem e anteontem com ministros e parlamentares, nos palácios do Planalto e da Alvorada, Fernando Henrique usou metáforas médicas quando se referiu à crise que seu governo atravessa.
Lamentou ter sido obrigado a elevar os juros, mas elogiou os técnicos do Banco Central por tê-las elevado -contribuindo para estancar a queda da Bolsa de São Paulo na sexta-feira passada.
Jurou que não se deixará seduzir por apelos eleitorais para reduzir os juros antes que o mercado volte a operar com segurança a favor do Brasil.
"É um remédio amargo, mas necessário. Não estou preocupado com o calendário eleitoral, mas sim com a estabilidade", disse o presidente a dois ministros e dois parlamentares com os quais conversou.
FHC deixou claro que o governo não tem saídas alternativas e teme novas oscilações negativas nos índices das Bolsas e ataques especulativos ao real, obrigando-o a novos gestos para proteger a moeda.
"Fizemos a febre passar, agora é preciso administrar remédios que curem: sustentar nossa estabilidade e nosso crescimento", disse FHC, segundo relato feito à Folha por quatro interlocutores seus.
Aprovar reformas
O envolvimento do Congresso na reação à crise iniciada com o crash das Bolsas, com o apelo para a aprovação das reformas administrativa e previdenciária, é tido dentro do governo como uma ação de marketing destinada a fazer dois acenos para o exterior: o de que o governo conserva maioria a seu favor no Congresso e o de que o Brasil continua aperfeiçoando sua Constituição.
"Não dá para especular sobre o que o governo poderia fazer diferente daquilo que tem feito. Desvalorizar o real seria uma loucura. Aumentar tarifas públicas, como energia e telefone, e alíquotas de impostos, é contraproducente. A privatização segue o seu ritmo. Logo, a prova de força do governo é bem-vinda e elogiável", afirma o economista Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda.

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