São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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Pacote argentino prevê reajuste de combustível

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

A exemplo do Brasil, a Argentina também prepara medidas de contenção de gastos públicos para diminuir os efeitos da crise mundial nas Bolsas. O governo argentino já negocia com o FMI (Fundo Monetário Internacional) um pacote nesse sentido.
Entre as ações em estudo estão mecanismos para restringir os gastos do governo e aumento dos preços dos combustíveis.
O primeiro aceno nessa direção foi feito pelo secretário da Fazenda, Pablo Guidotti. "O orçamento é o limite máximo que se autoriza a gastar, mas não há obrigação de chegar a esse topo."
O objetivo do governo argentino é o mesmo do Brasil: sinalizar à comunidade financeira internacional que não haverá desvalorização da moeda, mesmo que o custo sejam medidas recessivas.
Ontem, a Bolsa argentina abriu em baixa de 1%, refletindo os resultados das Bolsas no Brasil e na Ásia.
Na próxima semana, o presidente Carlos Menem e o ministro da Economia, Roque Fernández, irão a Brasília discutir com seus colegas Fernando Henrique Cardoso e Pedro Malan os efeitos da crise nas Bolsas sobre a região.
Segundo a Folha apurou, o provável desaquecimento da economia argentina deverá ser utilizada como argumento para pressionar o Brasil a antecipar para o próximo ano a adoção de um regime automotivo comum, prevista originalmente para a virada do milênio.
Atualmente, as regras do setor, decisivas para a captação de investimentos, são favoráveis ao Brasil.
Reforma trabalhista
A subdiretora do FMI Teresa Terminassian chega neste fim-de-semana a Buenos Aires, vindo de Brasília, para negociar o pacote de contenção de gastos.
O FMI exige que o governo se comprometa a adotar, até junho de 98, uma reforma para flexibilizar as regras trabalhistas.
Já aceita pelo governo, essa é uma das condições para que o fundo conceda à Argentina um crédito de US$ 3 bilhões -empréstimo que foi aumentado em US$ 2 bilhões após a crise nas Bolsas.
"Acordamos que quando se fizer a primeira revisão do acordo, em junho de 98, deveremos já ter aprovado uma reforma trabalhista", disse o secretário de Fazenda.
A adoção da reforma trabalhista até 98 é rejeitada pela CGT (Confederação Geral do Trabalho), maior central sindical do país.
"Não vamos aceitar uma reforma que torne ainda mais precário o trabalho dos argentinos", disse à Folha Mariano Roa, porta-voz da entidade.
A arrecadação de recursos com a venda de estatais também deverá ser direcionada para abater a dívida externa do país.
A Argentina já privatizou suas principais empresas (petróleo, telefonia, abastecimento de água, metrô etc.) e parte agora para a venda de estatais de setores periféricos, como aeroportos.
Situação política
O caráter recessivo das medidas deverá piorar a já complicada situação política de Menem.
O partido Justicialista (nome oficial do peronismo) foi derrotado nas eleições legislativas e municipais, realizadas no mês passado, para a Aliança (união dos dois principais partidos de oposição: União Cívica Radical e Frepaso).
Para a eleição presidencial de 99, Menem irá enfrentar o crescimento político da Aliança em situação ainda mais delicada em função da desaquecimento da economia.
Ainda assim, os menemistas não desistiram de tentar alterar a Constituição para permitir a "re-reeleição" do presidente. Hoje, o deputado Mario Câmara apresenta projeto nesse sentido.
A Constituição da Argentina -que comemorou ontem o recorde de 5.079 dias de democracia- permite somente dois mandatos presidenciais seguidos. Pela atual legislação, Menem deveria deixar o cargo no ano 2000.

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