São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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Mostra traz filmes sobre a imigração

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Estar longe de casa, entre gente estranha, é a situação dramática predominante nos filmes da mostra "Imigrações, Migrações e Diversidade no Cinema Brasileiro", que faz parte do evento Encontro da Cultura Brasileira.
A mostra começa com um clássico absoluto, "O Descobrimento do Brasil" (1937), de Humberto Mauro, que mostra, em imagens de grande frescor e delicadeza, o encontro entre os índios e os primeiros portugueses que aportaram na Bahia em 1500. Na visão idealista de Mauro, não chegou a ser um choque cultural, mas uma troca de surpresas e assombros. Um aspecto nada desprezível do filme é a música, composta especialmente para a tela por ninguém menos que Heitor Villa Lobos.
Há filmes na programação que só tocam tangencialmente no tema do deslocamento geográfico ou do estranhamento cultural.
É o caso, por exemplo, do saboroso "Marvada Carne" (1985), de André Klotzel, cujo protagonista só sai da roça para a cidade grande na última parte da história.
Outros destaques da programação, como "A Hora da Estrela" (1985), de Suzana Amaral, e "A Grande Cidade" (1965), de Cacá Diegues, têm em seu cerne o desencontro entre personagens vindos de um Nordeste arcaico e a crueza "moderna" da metrópole (São Paulo no primeiro caso, Rio no segundo).
Retirantes nordestinos povoam também "Morte e Vida Severina" (1976), de Zelito Viana, e os excepcionais "Vidas Secas" (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e "Cabra Marcado Para Morrer" (1984), de Eduardo Coutinho.
Outra vertente significativa -a dos dramas de estrangeiros que vêm tentar a sorte no país tropical- tem altos e baixos na mostra.
A imigração japonesa para as fazendas de café do interior de São Paulo e do Paraná aparece em "Gaijin" (1979), o primeiro e melhor filmes de Tizuka Yamasaki.
Os "oriundi" da Itália são tema do pouco visto "Andiamo in 'Merica", de Sergio Muniz, e do frouxo "O Quatrilho" (1996), de Fábio Barreto.
Um imigrante ilustre -o escritor austríaco Stefan Zweig, que se matou em Petrópolis em 1942- é o assunto de "Zweig - A Morte em Cena" (1995), documentário surpreendentemente sóbrio do quase sempre extravagante Sylvio Back.
Uma situação mais contemporânea, o embate entre um rico empresário norte-americano e três garotos cariocas da favela, é dramatizada no excelente "Como Nascem os Anjos" (1986), de Murilo Salles, que não teve nos cinemas a atenção que merecia.
Na mostra, ainda é possível conhecer obras interessantes e pouco vistas, como "O Mágico e o Delegado" (1983), de Fernando Coni Campos, e "Noites Paraguaias" (1982), de Aloysio Raulino.

ACOMPANHE a programação da mostra no roteiro de cinema do Acontece

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