São Paulo, quinta-feira, 6 de novembro de 1997
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Fraudadora impõe condições para voltar

CLÁUDIA PIRES
ENVIADA ESPECIAL A COSTA RICA

A advogada brasileira Jorgina Maria de Freitas Fernandes pode decidir voltar para o Brasil na próxima semana caso consiga obter garantias da Justiça de que seu processo será reaberto.
Durante entrevista concedida ontem por telefone do presídio "El Buen Pastor", que fica na periferia de San José (Costa Rica), Jorgina disse que gostaria de voltar ao seu país. "Vou para onde a Justiça determinar, mas é a minha vontade voltar para o Brasil."
A brasileira, que foi condenada a 14 anos de prisão por fraudes na Previdência Social, se entregou à polícia da Costa Rica na última segunda-feira. Desde sua prisão, seus advogados têm afirmado que ela prefere permanecer na Costa Rica. "Eu não tenho garantia no Brasil, por isso tenho que brigar contra o processo de extradição. Para voltar, tenho que ter garantias judiciais e de vida"
Jorgina esteve reunida ontem durante quase três horas com o advogado brasileiro Felipe Amodeo, que deve comandar o caso a partir de agora. Amodeo chegou ontem a San José, mas não quis confirmar possíveis mudanças na estratégia da defesa.
"Essa foi a nossa primeira reunião. Eu devo ter outras reuniões ainda hoje (ontem) e amanhã (hoje) com os advogados da Costa Rica. Estão sendo tomadas algumas decisões que não podem ser antecipadas", disse Amodeo.
Os dois outros advogados da brasileira, Jorge Granados Moreno e Rodolfo Pisa, também devem a acompanhar o caso. Segundo a embaixada brasileira na Costa Rica, no entanto, Jorgina não vai voltar para o Brasil tão cedo.
Anulação
Para a brasileira, o objetivo principal é conseguir a anulação de seu processo no Brasil.
"Meu processo foi totalmente furado. Não tivemos direto à revisão, fomos julgados em uma única instância, como se fosse num tribunal de guerra. Isso não existe! Ou o país é realmente uma democracia, ou tudo não passa de discurso", disse ela.
Ela afirma que há quatro anos vem tentando entrar com recursos na Justiça brasileira, mas que seus pedidos têm sido sempre negados. Jorgina disse ainda que, se o processo for reaberto, tem condições de provar sua inocência.
"Eu posso provar por A mais B que todos os meus cálculos estavam corretos. Eu não roubei a Previdência Social, esse dinheiro era dos meus clientes e foi entregue."
Vida na prisão
Segundo Felipe Amodeo, Jorgina parece estar bem de saúde. Nos últimos dias ela vinha se queixando de novos problemas com o câncer de seio.
A falta de auxílio médico foi uma das razões apresentadas pela brasileira para ter se entregado à polícia costarriquenha. "Dentro da minha avaliação não técnica, ela está bem de saúde. Ela está bem disposta", disse o advogado.
O presídio feminino fica na periferia de San José. Durante a manhã de ontem, a reportagem tentou falar várias vezes com Jorgina. Em uma dessas vezes, os policiais informaram que ele estava "no salão de beleza" do presídio.
"Aqui parece um colégio interno", disse Jorgina. "Não tem grades, e posso sair da cela quando eu quero." A brasileira não está sozinha na sela, mas não quis dizer com quantas pessoas está dividindo o mesmo espaço.

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