São Paulo, quinta-feira, 6 de novembro de 1997
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Crash põe mercado cultural em alerta

LUIZ ANTÔNIO RYFF

da Reportagem Local
O crash que derrubou as bolsas de valores no mundo inteiro no final do mês passado também está atingindo o setor cultural.
A queda de 31% entre os dias 23 e 31 de outubro e a decisão do Banco Central de aumentar a taxa de juros deixaram o mercado inquieto.
"Estamos com as barbas de molho", diz Manolo Camero, presidente da ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Disco).
Antes da turbulência das bolsas, a expectativa era de que o mercado brasileiro, que movimentou cerca de R$ 1 bilhão no ano passado, crescesse 12%. Manolo acha que o aumento deve ficar em 9%. Essa revisão de expectativa ocorre pela subida da taxa de juros. Os juros influem na vendagem de aparelhos de CDs para as classes C, D e E -que impulsionaram o consumo de CDs nos últimos meses.
Segundo Manolo, a média anual de consumo de CDs no Brasil é de 0,7 "per capita", mas o comprador de um aparelho de CD consome 10 unidades no primeiro ano de aquisição do disc-player.
Com o aumento dos juros, a perspectiva é que a venda de aparelhos caia, já que as classes C, D e E costumam comprar a prazo. O que inquieta mais as gravadoras é que o último trimestre do ano concentra 40% da vendagem anual.
Com o aumento de juros também costuma aumentar a inadimplência. Nesta semana, as gravadoras discutiram o problema. Elas estudam diminuir a quantidade entregue às lojas varejistas para evitar a inadimplência.
Por exemplo: se uma loja pede 100 discos de um artista, a gravadora entregaria 50; os outros 50 ficariam guardados nas gravadoras.
Os juros também preocupam o editor Sérgio Machado, da Record, e presidente do SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livro). Ele explica que o ciclo de feitura de um livro é muito longo e costuma ser financiado. "Quem estiver financiando isso com dinheiro de terceiros vai sofrer", diz.
"Mas ainda é muito cedo. A percepção atual ainda é que é uma crise momentânea. Mas se essa situação (juros altos) perdurar, vai complicar. Aí é recessão."
O consenso entre todos os setores é que ainda é cedo para ter clareza sobre qual o tamanho da crise e sua profundidade.
"Não houve efeito maior. Ainda", diz Yacoff Sarkovs, consultor de marketing cultural.
Ele lembra que os setores de comunicação de qualquer empresa -de onde saem os patrocínios- costumam ser os primeiros a sofrer cortes em épocas de arrocho.
"Se persistir o problema, há uma natural queda de lucratividade, menos imposto a ser pago e, consequentemente, menor possibilidade de uso das leis de incentivo à cultura", diz Sarkovs, para quem o marketing cultural continuará em expansão.
O temor dos produtores de shows é que ocorra uma desvalorização do real em relação ao dólar.
"Trabalhamos com espetáculos internacionais. Como o governo está mantendo o real forte diante das moedas estrangeiras, não tivemos de alterar nossa agenda em função da turbulência nas bolsas", afirmou Steffen Dauelsberg, diretor-executivo da empresa promotora de eventos DellÁrte.
"Nossos contratos e previsões são feitos em dólar. Não há problema. Desde que o governo não mexa no câmbio", disse Franco Bruni, que deve trazer o U2 ao país.

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