São Paulo, quinta-feira, 6 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CIDADE À VENDA

Administrações Regionais do Município de São Paulo se tornaram feitorias de arrecadação de propinas.
Reportagem da "Folha da Tarde", publicada também por esta Folha, revelou que fiscais das Administrações Regionais (ARs) se corrompem para organizar o comércio ilegal de ambulantes em São Paulo, com o apoio de funcionários da vereança. Enfim, esses servidores se apropriam do espaço público e de uma concessão pública e os cedem a camelôs em troca de luvas e de aluguel.
Um dos vereadores, ao que parece, assumiu o patrocínio do negócio. Num suspeitíssimo tom vulgar, Vicente Viscome (PPB) disse o seguinte ao repórter que o ouviu sobre o escândalo: "Me deixa fora dessa parada. Estou para pegar uma secretaria aí, rapaz. Eu limpo a área já, já." Depreende-se que alguma "área" de sua conta deve estar suja, pois o desesperado e sempre oportunista vereador se propõe a limpá-la.
Apesar de repulsivas, as atitudes descritas não chegam a ser surpresa. Os vereadores situacionistas já haviam dado mostra de que consideram as ARs como propriedade deles; ameaçaram o prefeito com uma CPI e corte de verbas se não lhes fosse entregue o controle dessa parte da administração pública, para eles uma regalia natural, talvez uma satrapia de déspotas suburbanos, cuja competência, aliás, é posta em dúvida até pelo secretário municipal de Obras.
Pode-se argumentar que vereadores, eleitos pelos cidadãos, podem indicar administradores regionais em acordo com um prefeito que também passou pelas urnas. Mas seria ingenuidade tola acreditar que se está diante de um caso de exercício legítimo de influência política. A prática organizada de ilícitos, sediada nas ARs, demonstra que a politicalha municipal favorece a apropriação de bens e prerrogativas públicas.
Para que se dê alguma legitimidade e transparência às nomeações e à administração nas regionais, esse serviço público deve ser muito bem fiscalizado. Como isso evidentemente não pode ficar a cargo da Câmara, é preciso que as ARs passem a prestar contas a um conselho de cidadãos. Basta de entregar a cidade a alguns desclassificados com garantia quase plena de impunidade.

Texto Anterior: PRIVATIZAÇÃO E CORAGEM
Próximo Texto: REFORMAS E CLIENTELISMO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.