São Paulo, sexta-feira, 7 de novembro de 1997
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Enterro de garoto reúne 300 pessoas

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 300 pessoas participaram na tarde de ontem do enterro do estudante Daniel Pereira de Araújo, no cemitério Dom Bosco, em Perus (zona noroeste de São Paulo).
Dois ônibus levaram estudantes da escola municipal Euclides Figueiredo, onde Daniel estudava, ao enterro. A maioria dos estudantes carregava cartazes feitos de cartolina protestando contra a morte.
Antes de ser levado para o cemitério, o corpo de Daniel foi velado desde as 21h de anteontem, em uma capela na favela São Remo. Por volta das 9h, a mãe de Daniel, Lizete Pereira de Araújo, desmaiou e precisou ser medicada, atrasando o cortejo.
Na chegada do cortejo ao cemitério, Lizete falou à imprensa pela primeira vez desde a morte do filho. "Meu filho foi morto por seguranças da USP. Estou sofrendo desde domingo e só vou sossegar quando colocar esses assassinos atrás das grades. Se a USP não colocar, eu mesma vou fazer justiça. Não foi a raia olímpica que matou meu filho, ele sabia nadar. Foram os seguranças da USP", desabafou Lizete, pouco antes de desmaiar novamente.
Sobre o caixão, foram colocadas as faixas escritas pelos colegas de Daniel, uma foto do estudante e várias coroas de flores. No momento que o caixão descia à sepultura, Lizete gritou, chorando: "Foi embora o que eu mais gostava na minha vida."
Um dos irmãos de Daniel, Davi, estava muito abalado e não conseguiu ir ao enterro. Outro irmão, Dimas, 16, ficou o tempo inteiro ao lado do pai, o pedreiro João Batista de Araújo, chorando muito.
"Vou embora no seu carro e vou dormir com você hoje. Não tenho coragem de ficar sozinho", disse Dimas. O pai respondeu: "Não tenha medo. O Daniel continua ao nosso lado. Quando a gente assistir a um jogo do São Paulo pela TV, ele também vai estar torcendo junto lá do céu."
Depois do enterro, João Batista pediu a todos que rezassem um pai-nosso. Após a oração, todos gritaram "justiça".
Os seis garotos que afirmam ter sido espancados por seguranças da USP no dia do desaparecimento de Daniel estiveram presentes no velório e no enterro.
Punição
Após o enterro, João Batista falou que acredita que a polícia irá encontrar os culpados pela morte de seu filho. "Acredito na polícia. Os policiais também têm filhos, sabem a dor que estou sentindo e vão fazer o máximo para achar os culpados."
João Batista não acredita que seu filho tenha morrido afogado. "Não posso dizer com certeza que ele foi assassinado, mas, para mim, está quase comprovado. Só falta o laudo."
(OC)

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