São Paulo, sexta-feira, 7 de novembro de 1997
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Indústria e comércio iniciam queda-de-braço para definir juros

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

As negociações entre a indústria e o comércio estão mais difíceis nesta semana por causa da indefinição de uma taxa de juro a ser cobrada para os próximos 30 dias.
As fábricas, que até a semana passada cobravam das lojas juros de 1,6% ao mês, em média, passaram a trabalhar com uma taxa próxima de 3%, em média, nesta semana. Só que o varejo não está disposto a aceitar mais do que 2,85%.
"A indústria está com medo que o juro aumente mais ainda e quer se proteger", diz Julio Cesar Pinto, diretor financeiro da rede Ponto Frio, que faturou cerca de R$ 2,2 bilhões em 1996. "Os negócios não pararam, mas não estamos aceitando taxas muito elevadas."
A Lojas Cem, rede com 71 pontos-de-venda, também reluta em aceitar os juros que estão sendo cobrados pela indústria nestes últimos dias, de até 3,5% ao mês. "Nos casos mais difíceis, estamos propondo pagamento à vista", diz Natale Dalla Vecchia, diretor.
Ele conta que os fornecedores mais estocados acabam cedendo, pois também têm interesse em desovar os estoques neste final do ano. As negociações estão mais duras, diz, com as empresas que já adequaram a oferta à demanda.
As lojas de porte médio são as que estão sofrendo mais com essa queda-de-braço, informa Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, associação que reúne os lojistas de shopping centers.
Nas negociações desta semana, conta ele, a indústria está tentando ainda reduzir prazos, que antes chegavam a 60 dias, para 45 dias, no máximo. E que as novas taxas, de até 6% ao mês, também possam valer para as compras já efetuadas, mas ainda não entregues.
"Os bancos também estão cobrando mais para descontar duplicatas da indústria. Ela simplesmente quer fazer o repasse do custo financeiro. Assim, já era prevista essa discussão mais intensa."
Eldo Moreno, diretor do Magazine Luiza, com 87 lojas, diz que a discussão com a indústria foi mais difícil no começo da semana, quando os juros cobrados chegaram a 3,5% ao mês.
Ontem, segundo ele, alguns fornecedores acabaram voltando atrás e passaram a cobrar juros de 1,9% ao mês. "A venda está difícil, não dá para aumentar o juro."
Girsz Aronson, proprietário da G. Aronson, rede com 32 pontos-de-venda, diz que para não perder cliente por causa do aumento dos juros decidiu reduzir de 3% a 4% os preços de alguns produtos.
"A estratégia, por enquanto, é que o consumidor pague o mesmo valor da prestação. A venda já melhorou porque ainda estamos trabalhando com os juros antigos."
A Alshop informa que no final de semana as vendas caíram cerca de 20% nas lojas dos shoppings na comparação com o anterior.
Essa queda, prevê Sahyoun, deve ser compensada neste fim-de-semana por conta do pagamento do salário. As lojas de eletroeletrônicos, acredita ele, devem ainda continuar mais vazias do que as de roupas ou outros produtos de menor valor unitário.
Indústria
Roberto Macedo, presidente da Eletros, que reúne a indústria eletroeletrônica, diz que é natural que haja neste momento uma discussão mais intensa entre a indústria e o varejo para definir juros.
"O mercado está muito confuso."

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