São Paulo, sexta-feira, 7 de novembro de 1997 |
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Gangsta é passado, diz Wyclef Jean
CAMILO ROCHA
Embora você já conheça de cor os hits "Ready or Not" e "Killing Me Softly", do grupo de Wyclef Jean, os Fugees, é bem provável que não tenha escutado seu primeiro disco-solo, "The Carnival". É um trabalho elaborado e amplo, cobrindo as influências da vida de Jean: tem de sample dos Bee Gees até cover de "Guantanamera", com Celia Cruz. É diferente dos Fugees, embora tenha características em comum, como a economia nos arranjos e o apurado senso melódico. Wyclef se apresenta hoje à noite no clube B.A.S.E, em São Paulo. Leia a seguir trechos de entrevista concedida por ele à Folha na última quarta-feira. * Folha - Por que escolheu o Carnaval como tema de seu álbum? Wyclef Jean - Escolhi o Carnaval porque sou do Haiti, já passei por Cuba, Miami, até chegar ao Brooklyn. O Carnaval é minha biografia, minha vida nas ruas. É uma metáfora da minha vida. Folha - Por que decidiu lançar um álbum-solo? Jean - Os Fugees venderam 15 milhões de discos ao redor do mundo. Então é bom manter as coisas equilibradas. "The Carnival" é somente o próximo estágio. Ainda é tudo parte do "Refugee Camp (campo de refugiados). Para mim é uma maneira de me desenvolver como produtor e músico. Folha - Você se sente mais livre trabalhando sozinho? Jean - Não, eu ainda tenho os mesmos pestinhas me rodeando, ainda tenho Pras (membro dos Fugees) e outros amigos dando palpites. Eles tiveram bastante contribuição no meu disco. Folha - Era muita gente dando palpite? Jean - Não, geralmente nas minhas sessões eu tenho um 9mm no console do estúdio. Na porta tem uma placa grande dizendo: "Não é permitida a entrada de pessoas da indústria musical, do contrário levarão tiro". Folha - Os outros Fugees também vão lançar discos-solo? Jean - A Lauryn (Hill) está gravando um álbum agora e Pras (Prakazrel "Pras" Michel) é o Michael Jackson dos Fugees... Folha - Como? Jean - O Pras é um cara muito engraçado. Você viu o vídeo novo dele, "Electric Avenue"? É muito bom. Ele fez para a trilha sonora de "Money Talks". Folha - Você sampleou "Stayin' Alive", dos Bee Gees, uma canção disco pop feita por brancos. O que ela significa para você? Jean - Pode ser uma canção disco pop branca para você, mas para mim é aquela música que ouvíamos nos "projects" (conjuntos habitacionais) e todo mundo dançava. Toda sexta à noite havia festa e não importava se era Bee Gees ou Kool & The Gang ou outra coisa. Eu mantive o título na minha música com o sentido de que estamos tentando ficar vivos no gueto, é uma reminiscência desse período, quando a disco era muito popular e os negros iam dançar para esquecer seus problemas. Folha - Quando os Fugees apareceram, houve esse consenso de que vocês eram uma renovação no hip hop. Vocês estavam conscientes disso quando apareceram? Jean - Não estávamos conscientes disso e sim de que muito rap lixo do tipo "vou matar essa pessoa" passou a vender menos. E nós começamos a ganhar dinheiro no sentido de que a gravadora começou a dizer: "Bom, esse negócio de gangsta já era e precisamos achar algo novo para fazer, porque os Fugees acabaram com a raça de vocês matadores. Vamos pensar em algo novo". Folha - Então você acha que essa atitude gangsta é passado no rap? Jean - As pessoas estão mudando, elas não são mais gangstas, são jogadoras. Um jogador é um cara sossegado, tem todas as mulheres, ainda tem uma arma, mas não fica se exibindo. Mas você sabe que ele pode te pegar. Folha - Quando sai o próximo álbum dos Fugees? Jean - Em 98. "The Predictions of Nostradamus" é o título provisório, as profecias de Nostradamus são algo muito profundo para a mente humana. Mas eu não sei de nada, pois existe outro nome possível, "Elo Em". Folha - O que quer dizer isso? Jean - Não posso dizer e sei que você não vai descobrir. É isso que faz esse nome ser sarado. "Elo Em", o que é isso? Soa arábico. Show: Wyclef Jean Onde: B.A.S.E (av. Brigadeiro Luís Antônio, 1.137, tel. 011/606-3244) Quando: hoje, às 22h Quanto: de R$ 25 a R$ 30 Texto Anterior: Nos EUA, se acham fórmulas para rir de tudo Próximo Texto: Melodia despreza hits Índice |
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