São Paulo, sexta-feira, 7 de novembro de 1997 |
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Documentário resgata memória dos bairros de SP
PATRICIA DECIA
Concebido como um conjunto de dez programas sobre bairros tradicionais, "São Paulo - Memória em Pedaços" ecoa na televisão uma tendência que ganha espaço nos museus de história oral e nos livros dedicados a reconstruir a vida cotidiana de outros tempos. A realização é das repórteres Neide Duarte e Maria Cristina Poli, com o apoio financeiro do banco Sudameris, que deverá distribuir cem cópias dos programas para escolas e bibliotecas. Por enquanto, serão exibidos quatro episódios: Brás, Bexiga, Mooca e Ipiranga. Para 98, estão prometidos outros seis: Santo Amaro, Freguesia do Ó, Jardim América, Barra Funda, Liberdade e Bom Retiro. Em cada bairro, transformações gigantescas -arquitetônicas e populacionais- ocorreram neste século. Um dos exemplos mais gritantes está no Brás. Entrada de imigrantes europeus, local de fortíssima colonização italiana, o Brás foi demolido em um quinto para a construção da avenida Radial Leste, nos anos 50. Cinemas tradicionais, como o Brás-Politeama, foram destruídos ou viraram estacionamentos. Coreanos, judeus, bolivianos e nordestinos fazem a nova realidade do local, nas centenas de lojas populares que se espalham pelo bairro. Pouco sobrou do início do século, denotando a vertiginosa degradação do que poderia se tornar patrimônio histórico em todo o território paulistano. Uma parte dessas sobras resiste na documentação da Hospedaria dos Imigrantes, no Brás. São fotos e documentos de famílias vindas de Itália, Espanha, Alemanha, Japão etc. Famílias como a do aposentado Alfredo Castagna, 88, que vive hoje na Mooca. Ele é um dos muitos imigrantes que contaram o que viram e viveram a Duarte e Poli. Os relatos trazem à tona alguns fatos que ficaram obscuros na memória da maioria dos paulistanos. A greve de 1917, a epidemia de gripe espanhola em 1918 e a revolução legalista de 1924, por exemplo, tiveram um impacto forte nas populações do Brás e da Mooca. Muitos morreram doentes ou executados, famílias tiveram casas saqueadas e operários invadiram o moinho que produzia a farinha de exportação para a Europa durante a Primeira Guerra Mundial. A cidade ainda guarda revelações: o italiano canta sem culpa o hino fascista, espanhóis mostram sua admiração por Francisco Franco e, na versão mais paulistana da cantina, o cantor de tarantela é japonês e o dono, português. Programa: São Paulo - Memória em Pedaços Emissora: TV Cultura Quando: de 18/11 a 21/11, às 22h Texto Anterior: CLIPE Próximo Texto: Brás e Mooca eram um só Índice |
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