São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997
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Alta do juro pode ser insuficiente

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Quando no mundo todo sobem os juros, qual a eficiência de cada elevação em si mesma? Na teoria, quem coloca suas taxas mais alto sobrevive. Na prática, a generalização do truque aumenta o desconforto global e pode ter resultado oposto: quem sobe mais é porque está mais desesperado.
O mecanismo é conhecido de qualquer operador de mercado. Quando um banco está em dificuldades, oferece juros mais altos a quem se atreva a depositar ali seus recursos. Mas, a partir de um certo ponto, a alta dos juros apenas afugenta os potenciais credores.
Em economia isso é comum. Como num teatro ou estádio, ficar de pé ajuda a enxergar melhor o espetáculo. Mas se todo mundo levanta ao mesmo tempo, ninguém fica em vantagem e a coisa pode até mesmo acabar em pancadaria.
Os juros não param de subir em vários países do centro e da periferia. Os alemães puxaram a alta na União Européia. No Sudeste Asiático, Hong Kong jogou os juros na estratosfera para segurar a moeda. Até agora as chances de uma elevação dos juros nos EUA eram reduzidas. O fenômeno é bastante simples. Fugindo à incerteza nos mercados globais e nos mercados de ações, os investidores encontram refúgio nos títulos públicos dos EUA. O aumento na procura por esses títulos diminui os custos de financiamento do Tesouro, ou seja, caem as taxas de juros. Juros menores estimulam as Bolsas.
Mas o novo dado é o índice de desemprego nos EUA, que caiu para 4,7% no mês passado, o mais baixo desde 1973. O custo da hora trabalhada ficou mais que o dobro acima das expectativas. Com a volta de expectativas inflacionárias, retorna também o medo de uma elevação dos juros nos EUA.
Com altas de juros em vários quadrantes, cada uma delas já tende a perder impacto e quanto mais forte a alta, maior o desconforto. Uma virada nos EUA seria fatal.
No Brasil, para piorar, o governo por enquanto apenas fez o aperto monetário, demorando para anunciar a lição de casa na área fiscal. Se o anúncio demorar muito ou se não for convincente, não haverá alta de juros que baste.

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